segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

AQUELE QUE TRAZIA UMA VINHA GUARDADA

                     A António Cabral,

         no quinto aniversário da sua morte

 

Aquele que trazia uma vinha guardada

na gaveta da alma de mais fácil acesso

e sempre aberta – não pode ter morrido.

 

Para facilitar, digamos que emigrou

com juras de algum dia regressar,

voltar a ver o rio, afagá-lo

como se afagam as cãs de um velho pai.

 

Felizmente para nós,

não pôde levar na mala breve

os seus papéis, os seus livros, a viola

que dedilhava em pensamento

e nos fazia dedilhar a nós.

 

De modo que, enquanto não regressa,

a sua voz continua a nosso lado,

indicando caminhos, desbravando

matagais que ocultam a esperança.

 

A.M. Pires Cabral em Gaveta do Fundo

 

   

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