domingo, 17 de outubro de 2010

EQUINÓCIO


Chega-se a este ponto em que se fica à espera
Em que apetece um ombro   o pano de um teatro
um passeio de noite a sós de bicicleta
o riso que ninguém reteve num retrato

Folheia-se num bar o horário da Morte
Encomenda-se um gim enquanto ela não chega
Loucura foi não ter incendiado o bosque
Já não sei em que mês se deu aquela cena

Chega-se a este ponto    Arrepiar caminho
Soletrar no passado a imagem do futuro
Abrir uma janela    Acender o cachimbo
para deixar no mundo uma herança de fumo

Rola mais um trovão    Chega-se a este ponto
em que apetece um ombro e nos pedem um sabre
Em que a rota do Sol é a roda do sono
Chega-se a este ponto em que a gente não sabe

David Mourão-Ferreira do livro Do Tempo do Coração em Obra Poética 

Legenda: Não foi possível identificar o autor/origem da fotografia.

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