sábado, 30 de outubro de 2010

OLHAR AS CAPAS


Uma Longa Viagem com José Saramago

João Céu e Silva
Fotografias: João Céu e Silva
Porto Editora, porto, Março de 2009


E porque todo o livro deve ser uma tese este não fugirá à regra: José Saramago é o escritor que saiu da gaveta com o 25 de Abril de 1974. Não foi o escritor de grandes obras guardadas para serem publicadas quando o regime mudasse, porque até então fizera os mesmos versos de que qualquer português poderia ser autor, mas um homem que foi fermentando na sua cabeça – e em alguns escritos do período formativo que se prolongou por décadas de vida – uma escrita vigorosa e inventiva, que veria a luz do dia pela força das contradições que a democracia em construção fez explodir. Se Portugal tivesse seguido ido pelo caminho que José Saramago e os seus camaradas do Partido Comunista Português lutavam, o escritor que havia em José Saramago poderia ter sido morto, mais uma vez, à nascença, mas a vitória de outras correntes políticas e a dispersão do voto nacional por outras opções de governação resultaram num abrupto fim de percurso de fazedor de opinião pública em troca de um ganhar a vida através da literatura. E foi assim que o escritor que durante o regime de Salazar não pudera ir mais além, por não sentir receptividade para as suas propostas literárias, nem vontade para continuar a escrever para a gaveta, aprontou a terra para plantar em definitivo os grãos de um campo de livros que foram sendo colhidos ao longo de três décadas e ainda continuam a sê-lo.

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