Uma Longa Viagem
com José Saramago
João Céu e Silva
Fotografias: João Céu e Silva
Porto Editora, porto, Março de 2009
E porque todo o
livro deve ser uma tese este não fugirá à regra: José Saramago é o escritor que
saiu da gaveta com o 25 de Abril de 1974. Não foi o escritor de grandes obras
guardadas para serem publicadas quando o regime mudasse, porque até então
fizera os mesmos versos de que qualquer português poderia ser autor, mas um
homem que foi fermentando na sua cabeça – e em alguns escritos do período
formativo que se prolongou por décadas de vida – uma escrita vigorosa e
inventiva, que veria a luz do dia pela força das contradições que a democracia
em construção fez explodir. Se Portugal tivesse seguido ido pelo caminho que
José Saramago e os seus camaradas do Partido Comunista Português lutavam, o
escritor que havia em José Saramago poderia ter sido morto, mais uma vez, à
nascença, mas a vitória de outras correntes políticas e a dispersão do voto
nacional por outras opções de governação resultaram num abrupto fim de percurso
de fazedor de opinião pública em troca de um ganhar a vida através da
literatura. E foi assim que o escritor que durante o regime de Salazar não pudera
ir mais além, por não sentir receptividade para as suas propostas literárias,
nem vontade para continuar a escrever para a gaveta, aprontou a terra para
plantar em definitivo os grãos de um campo de livros que foram sendo colhidos
ao longo de três décadas e ainda continuam a sê-lo.
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