quinta-feira, 7 de outubro de 2010

SALAZAR; CEREJEIRA & MARCELO


Ao mesmo tempo em que se consumava a vitória da República, chegou a Coimbra, aquele que, vinte anos mais tarde, se empenhará em destruí-la – António de Oliveira Salazar.

Quando em 1912 a República permite a reabertura do “Centro Académico de Democracia Cristã” (C.A.D.C.), organização católica com fins exclusivamente políticos, Salazar fez parte da direcção, tendo a seu lado um outro estudante, Manuel Gonçalves Cerejeira, futuro Cardeal Patriarca.

Carlos Ferrão, na sua “História da 1ª República”, deixa claro que Salazar, apesar de monárquico, “proclamava uma indiferença completa em relação às formas de governo e nesse ponto se distinguia dos outros professores afastados do ensino que não ocultavam a sua filiação monárquica.”

Será no C.A.D.C. que Salazar recrutará todos os ministros, deputados, altos funcionários administrativos que serão o suporte do “Estado Novo”.

No combate feito à República por católicos, monárquicos, nacionalistas, conservadores, há-de destacar-se uma revista integralista dirigida pelo estudante da Faculdade de Direito, Marcelo Caetano, que deste modo se definia e declarava:

“Ordem Nova. Revista antimoderna, antiliberal, antidemocrática, antiburguesa, antibolchevista, contra-revolucionária, reaccionária, católica, apostólica romana, monárquica, intransigente, insolidária com escritores, jornalistas e quaisquer profissionais das letras, das artes e da Imprensa.”

Nos últimos anos temos vindo a assistir a um movimento tendente a branquear o funesto papel que na história cabe a Oliveira Salazar, Cardeal Cerejeira, Marcelo Caetano. Deles se diz que foram pensadores, escritores, gigantes da cultura, figuras marcantes do seu tempo. Um livro recente de Irene Flunser Pimentel, chega a chamar ao Cardeal Cerejeira, “o príncipe da Igreja”.
Os três, juntamente com outros figurantes e figurões, cedo acertaram o passo para levar a cabo o pesadelo de uma ditadura de quase cinquenta anos.

“Não discutimos Deus e a virtude. Não discutimos a Pátria e a sua história.”

Em nome desse Deus, dessa pátria, dessa autoridade, milhares de portugueses foram perseguidos, espancados, mortos e milhares de jovens, enquanto os pais pagavam promessas em Fátima, morreram na guerra colonial, uma Igreja de que, em vão, se esperou uma palavra de repúdio pelo regime.

"Os ventos da História hão-de dar-nos razão."

2 comentários:

Anónimo disse...

Um pouco de honestidade histórica ficava bem...

Sammy, o paquete disse...

Nasci estava a 2ª guerra mundial quase a terminar.
Acreditarei sempre que os ventos da História hão-se trazer alguma razão.
De certeza que já não sentirei o soprar desses ventos.