Neste dia, em 1969, morria Jack Kerouac, escritor norte-americano, autor de “Pela Estrada Fora”, um livro a que chamam a celebração da amizade. Tinha 47 anos.
Escrito, em 1951, em apenas três semanas, “Pela Estrada Fora” é daqueles livros míticos da história da literatura. É o relato de uma experiência, que resulta de uma viagem por terras americanas, e também o México, demorou cerca de dez anos e só os encontros e os desencontros contaram. para a escrever.
Encontros com vagabundos, bêbados perdidos em bares, “o bar ideal não existe na América. O bar ideal é algo que desapareceu do nosso horizonte. Em 1910 um bar era um sítio onde os homens iam encontrar-se durante ou depois do trabalho, e tudo o que lá havia era um balcão comprido, um varão de lata, escarradores e um pianista para tocar música; mais alguns espelhos e barris de “whisky” a dez cêntimos o copo entremeados com barris de cerveja a cinco cêntimos a caneca. Agora é tudo cromados, mulheres bêbadas, paneleiros, “barmen” hostis, proprietários ansiosos a espreitarem pela porta preocupados com os seus assentos de couro e com a polícia; uma data de gritaria na altura errada e o silêncio mortal quando entra um desconhecido.”, boleias atrás de boleias, jazz em Nova Orleães, mulheres, muitas mulheres, “depois fui ter com Rita Bettencourt e levei-a para o apartamento. Metia-a no meu quarto após uma longa conversa na escuridão da sala. Ela era uma bela rapariga, simples e verdadeira, com um medo tremendo do sexo. Eu disse-lhe que era uma coisa bela. Queria provar-lho. Ela deixou provar, mas eu fui impaciente em demasia e não provei coisa nenhuma. Ela suspirou no escuro.
- Que pretendes da vida? - perguntei. Era o que eu costumava perguntar então sempre às raparigas.
- Não sei – disse ela – Servir às mesas e tentar ir andando.
Bocejou. Pus-lhe a mão na boca e disse-lhe que não bocejasse. Tentei explicar-lhe como eu estava excitado com a vida e as coisas que podíamos fazer juntos; a dizer isto, e a planear sair de Denver daí a dois dias. Ela, tristemente, virou-me as costas. Ficámos estendidos a olhar para o tecto e a pensar por que razão teria Deus feito a vida tão triste. Fizemos vagos planos para nos encontramos em Frisco.” e acima de tudo a loucura uma enorme loucura “era extraordinário como Dean podia passar de um estado de completa loucura para um de paz de alma – e penso que a sua alma estava envolta em automóveis rápidos, uma costa para alcançar, e uma mulher no fim da estrada – como se nada tivesse sucedido.”
- Que pretendes da vida? - perguntei. Era o que eu costumava perguntar então sempre às raparigas.
- Não sei – disse ela – Servir às mesas e tentar ir andando.
Bocejou. Pus-lhe a mão na boca e disse-lhe que não bocejasse. Tentei explicar-lhe como eu estava excitado com a vida e as coisas que podíamos fazer juntos; a dizer isto, e a planear sair de Denver daí a dois dias. Ela, tristemente, virou-me as costas. Ficámos estendidos a olhar para o tecto e a pensar por que razão teria Deus feito a vida tão triste. Fizemos vagos planos para nos encontramos em Frisco.” e acima de tudo a loucura uma enorme loucura “era extraordinário como Dean podia passar de um estado de completa loucura para um de paz de alma – e penso que a sua alma estava envolta em automóveis rápidos, uma costa para alcançar, e uma mulher no fim da estrada – como se nada tivesse sucedido.”
Naturalmente, muito naturalmente mesmo, ler hoje “Pela Estrada Fora," não tem o mesmo perfume de, enquanto jovens, o devorámos, sim porque aquilo não era ler, era devorar, porque um livro como este não se lê, devora-se, e dizer que é um livro que ainda nos toca, talvez seja o melhor elogio que se lhe pode fazer.
“Porque as únicas pessoas autênticas para mim são as loucas, as que estão loucas por viver, loucas por falar, loucas por ser salvas, desejosas de tudo ao mesmo tempo, aquelas que nunca bocejam ou dizem um lugar-comum, mas ardem, ardem, ardem como fabulosas peças de fogo-de-artifício a explodir entre aranhas, entre estrelas…”
América de costa a costa, expressão tantas vezes repetida e tornada roteiro de tantas e variadas gentes, o grande sonho “uma enorme nostalgia em relação ao passado”.
É capaz de ser isso mesmo, o sabor nostálgico das memórias.
“Qual é a tua estrada, homem? A estrada do santo, a estrada do louco, a estrada do arco-íris, qualquer estrada. Há uma estrada em qualquer parte para qualquer pessoa em qualquer caso. Onde quem como?”
As transcrições são feitas a partir da tradução que H. Santos Carvalho fez para a Editora Ulisseia, Lisboa 1978.
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