sábado, 9 de outubro de 2010

O FERNANDO


Há muito que não vejo o Fernando, um  jovem cego que percorria as carruagens do metro.
Entre o entrar a porta e o chegar ao corredor cantarolava:
“Ora podem crer que eu continuo a agradecer a alguém que tenha a bondade ou a possibilidade de me auxiliar”
Depois começava a bater  com a bengala no chão, com um pauzinho na lata das esmolas, ritmava nos varões da carruagem e tudo aquilo sova a uma qualquer batida, bem ritmada, talvez rap e entoava de novo:
“Ora podem crer que eu continuo a agradecer a alguém que tenha a bondade ou a possibilidade de me auxiliar”
Quando as moedas não caíam na lata, exaltava-se, ficava uma pilha de nervos e dizia:
“Vocês rezem para que eu nunca veja!”
“Para a merda da bola todos têm dinheiro!”
Há muito que não ouço o rap do Fernando.
Que lhe terá acontecido?

3 comentários:

ié-ié disse...

Este teu amigo, Sammy, para mim um chato de todo o tamanho, bem como como todos os outros invisuais que pululam no Metro (já fiz até queixa na empresa) apareceu hoje às 20H42 na Linha Azul.

LT

Sammy, o paquete disse...

Caro Ié-Ié:
O Fernando não é meu amigo. Apenas alguém a que acho piada e que há muito não vejo.
Chatos para mim são os que no metro, e não só, falam em alto e bom som ao telemóvel, revelando as conversas de chacha que falam do Raul que bateu na Chana, da Mizé que largou o Clóvis...
Não tenho nada a ver com isto e gostaria muito que me poupassem a estas cisas...
Como diria o Rei D. Carlos: Bem-vindo à piolheira!
Um abraço

ié-ié disse...

Sabes o que faço quando vejo alguém a falar alto ao telemóvel, seja no metro ou noutro lado qualquer perto de mim? Olho fixamente como se estivesse a ouvir a conversa... É trigo limpo! Experimenta!

E quando atravessam as passadeiras agarrados ao telemóvel? Acelero e buzino! É vê-los assustados aos saltinhos. Até parecem coelhinhos...

LT