Até chegar onde
chegou, a vida de José Saramago não foi nada fácil.
Joaquim Vieira,
no seu Rota de Vida, assinala que para sobreviver, José Saramago fazia
traduções, uma vida espartana:
«Baptista-Bastos: «O Saramago era um indivíduo que se
afastava muito. Também. Não ia a bares, era muito parcimonioso e reservado. E
depois tinha de trabalhar para comer. E trabalhar é traduzir. E traduzir é
muito mau. Porque se ganha muito pouco e trabalha-se… Eu sei o que é isso.»
Das muitas páginas que traduziu, assegurará Saramago:
«Foram elas que me serviram de almoço e jantar. Quem quiser viver do que
escreve tem de ter uma disciplina de ferro. O trabalho de tradutor é
desgastante, frustrante. A capacidade de o realizar, a par de uma obra própria,
depende da disciplina e da saúde. A tradução, como forma de sobrevivência do
escritor profissional, é uma espécie de trabalho a táxi.»
Além do mais, o estado de necessidade implicava
considerar peixe tudo o que viesse à rede: «O mesmo editor que me tinha dado um
grande livro podia estar a dar-me algo simplesmente de rotina. Como comer era
necessário que se tornasse também numa rotina, então eu fechava os olhos e
fazia o trabalho. Li livros políticos, livros que tinham a ver com os países do
Leste, muito chatos, sensaborões e com muitos lugares-comuns ideológicos. Mas o
editor queria e eu precisava.»
Legenda: capa da
versão portuguesa de Ana Karenina, de Leão Tolstoi, traduzida do francês
por José Saramago em 1969. Imagem tirada de A Consistência dos Sonhos.
3 comentários:
(Caro Sammy, completamente a despropósito, estive quase tentado a comprar o livro da correspondência entre Jorge de Sena e João Gaspar Simões. Reparo que não existe aqui qualquer vestígio dessa correspondência. Será por o livro não ter o mesmo interesse dos outros, citados?)
Sou um apreciador incondicional de Correspondência trocada entre escritores. Aliás Saramago dizia que, para se conhecer um escritor, é fundamental olhar a sua correspondência e acrescentava que importante também é a troca de correspondência entre o autor e os seus leitores. No caso de Saramago, excepção feita à sua correspondência com José Rodrigues Migueis, não houve outras publicações.
Neste aspecto, Jorge de Sena, graças ao esforço meritório de sua mulher Mécia de Sena, é aquele que mais correspondência tem publicada. A correspondência com João Gaspar Simões, para mim, não é prioritária. Sena, como muitos outros escritores, nunca gostou do crítico e admito que haja por ali muita hipocrisia e jogo do faz-de-conta, mas é um livro que tenho em vista comprar. O óbice é que o Manuel S. Fonseca, como editor da Guerra e Paz, não é meigo nos preços. A Correspondência do Sena com o Eugénio de Andrade era quase uma pipa de massa, mas aí, dada o interesse e a qualidade, não tive qualquer hesitação.
Talvez que durante a Feira haja um «nice price» e traga o livro do Sena/Gaspar no carrinho de compras.
Digo-lhe ainda que, por aqui, nada é a despropósito.
Abraço.
Saramago dizia que, para se conhecer um escritor, é fundamental olhar a sua correspondência e acrescentava que importante também é a troca de correspondência entre o autor e os seus leitores.
E agora pergunto eu (não discordando evidentemente de Saramago) como será o futuro quando já não se escrevem cartas...
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