Correspondência
(1969-1978)
Jorge de Sena
Carlo Vittorio
Cattaneo
Edição: Mécia de
Sena, Jorge Fazenda Lourenço e Joana Meirim
Tradução do
italiano. Jorge Vaz de Carvalho
Guimarães
Editores, Lisboa, Novembro de 2013
Lamento que V. não tenha recebido a sua bolsa (alguém
a recebeu em vez de si?). e vejo que o encargo de organizar a biblioteca do
Instituto é assim como um prémio de consolação (ao menos pagam-lhe). Quanto ao
prémio de poesia… meu caro: os prémios de poesia só se dão aos consagrados, aos
amigos dos consagrados, aos amantes ou às amantes dos consagrados e dos júris.
E, para ser-se um consagrado e recebê-los, é preciso ou ser-se um milagre de
diplomacia e de bonomia com os idiotas deste mundo, ou fazer parte da pandilha.
Eu que o diga, que nunca concorri pessoalmente a nenhum, mas que várias vezes
entrei em prémios a que os editores, concorriam, por mim. Há anos, não sei se
lhe contei, apesar de oposições velhas de anos, e muita raiva surda, o Prémio
Nacional do Diário de Notícias
foi votado para mim (50 contos que me faziam um arranjo enorme, caríssimo) –
não havia saída, eu ia ganhar… ah, havia uma saída, não podiam premiar-me
porque sou cidadão brasileiro (e viva a dupla nacionalidade das pátrias irmãs…
) e não apanhei o prémio que foi para o sujeito que tem apanhado sempre (é a
terceira vez) os prémios que me tiram, o Torga.
(Duma carta de
Jorge de Sena, datada de 16 de Novembro de 1971, para Carlo Vittorio Cattaneo).
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