domingo, 23 de junho de 2019

OLHAR AS CAPAS


 Correspondência
(1969-1978)

Jorge de Sena
Carlo Vittorio Cattaneo
Edição: Mécia de Sena, Jorge Fazenda Lourenço e Joana Meirim
Tradução do italiano. Jorge Vaz de Carvalho
Guimarães Editores, Lisboa, Novembro de 2013

Lamento que V. não tenha recebido a sua bolsa (alguém a recebeu em vez de si?). e vejo que o encargo de organizar a biblioteca do Instituto é assim como um prémio de consolação (ao menos pagam-lhe). Quanto ao prémio de poesia… meu caro: os prémios de poesia só se dão aos consagrados, aos amigos dos consagrados, aos amantes ou às amantes dos consagrados e dos júris. E, para ser-se um consagrado e recebê-los, é preciso ou ser-se um milagre de diplomacia e de bonomia com os idiotas deste mundo, ou fazer parte da pandilha. Eu que o diga, que nunca concorri pessoalmente a nenhum, mas que várias vezes entrei em prémios a que os editores, concorriam, por mim. Há anos, não sei se lhe contei, apesar de oposições velhas de anos, e muita raiva surda, o Prémio Nacional do Diário de Notícias foi votado para mim (50 contos que me faziam um arranjo enorme, caríssimo) – não havia saída, eu ia ganhar… ah, havia uma saída, não podiam premiar-me porque sou cidadão brasileiro (e viva a dupla nacionalidade das pátrias irmãs… ) e não apanhei o prémio que foi para o sujeito que tem apanhado sempre (é a terceira vez) os prémios que me tiram, o Torga.

(Duma carta de Jorge de Sena, datada de 16 de Novembro de 1971, para Carlo Vittorio Cattaneo).

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