Este livro é uma
história deliciosa.
No meu tempo, a História
que aprendi no liceu, foi-me dada a conhecer em matéria resumida e segundo os
conceitos históricos da ditadura. Se quis ter outros olhares sobre essa mesma
história, tive que recorrer a outras fontes.
Em 1807, no auge
das guerras napoleónicas, o príncipe-regente D. João decide o impensável:
apesar de horrorizado com a ideia de cruzar o Atlântico, dá ordem para
transferir a Corte inteira e o Governo para a maior colónia de Portugal, o
Brasil.
É assim que, com
as tropas de Junot às portas de Lisboa, 10 000 nobres, padres, ministros e
criados fogem em debandada a bordo das frágeis embarcações da armada
portuguesa. Zarpam sob escolta britânica numa viagem transatlântica de dois
meses que se revelaria muito atribulada. Desembarcam enlameados, piolhosos e
esfarrapados, para grande surpresa dos súbditos do Novo Mundo.
Assim começa um
período de 13 anos de governação imperial portuguesa sediada no Brasil.
Depressa o Rio de Janeiro é beneficiado com uma nova ópera, um jardim botânico
luxuriante e um Paço Real – uma Versalhes tropical.
Espantei-me com
tudo o que desconhecia deste “carnaval” português.
O crítico e
professor Claude Lévi-Strauss considera Império à Deriva uma obra-prima,
escrita com erudição, simplesmente fascinante.
«O almoço tomado cedo (perto do meio-dia), era um
acontecimento importante. Todo o pessoal em funções no palácio nessa altura –
os seus validos, assistentes de guarda-roupa, funcionários do palácio e médicos
– reuniam-se para estarem presentes à mesa do regente. Segundo todos os
relatos, D. João era uma fabulosos comedor de frango, uma caracterização que
decorre da análise dos registos que sobreviveram das despesas da corte, em que
pombos e perus também figura com destaque. Comia com as mãos – três frangos a
cada refeição, de acordo com alguns registos – acompanhados de pão ligeiramente
torrado. No Rio de Janeiro, acrescentou mais um elemento a esta lauta refeição –
quatro ou cinco mangas da Baía, tudo isto regado com água. (D. João raramente
bebia vinho). Os almoços eram acontecimentos cerimoniais, decorriam numa grande
mesa oval, com uma toalha branca que chegava ao chão, e terminavam sempre com o
ritual da lavagem de mãos. D. Pedro pegava numa bacia de prata na qual D.
Miguel despejava á gua de um jarro sobre as mãos gordurosas do pai.»
Legenda: contra capa de Portugal à Deriva
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