domingo, 7 de abril de 2019

OLHAR AS CAPAS


José Saramago: Rota de Vida

Joaquim Vieira
Capa: André Serante
Livros Horizonte, Lisboa, Novembro de 2018

Como director-adjunto do Expresso, com a responsabilidade editorial do seu primeiro caderno, convidei José Saramago em 1993 para escrever uma crónica de jornal todas as semanas.
(…)
Confesso, porém, que ao fazer-lhe a proposta, tinha na cabeça outro pensamento que guardei para mim): «Este tipo qualquer dia vai ganhar o Nobel da Liteartura, e nesse momento será muito prestigiante para o Expresso tê-lo já como colunista.»
(…)
José Saramago nunca viria a escrever no Expresso. O director entendeu que a prosa de um comunista, todas as semanas, na primeira ou na última página – era esse o desejo do romancista – seria uma marca demasiado forte num jornal de tradição liberal. Creio que até trocou impressões sobre o assunto com o proprietário, Francisco Pinto Balsemão, que terá também abominado a ideia. Percebo as reservas: a avaliar pelo que o escritor, na qualidade de editorialista, dissera em 1975, seria imaginar que se tivesse nesse ano o poder executivo era bem provável que tentasse aniquilar o Expresso. Há coisas difíceis de indultar, mesmo a um potencial Nobel. Esta não é a história de um anjo, mas também não é a de um demónio.

Da introdução de Joaquim Vieira

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