sexta-feira, 26 de abril de 2019

TER COMPAIXÃO E HUMANIDADE...


26 de Abril de 1974

O segundo dia da nossa vida em liberdade.

Aos poucos, a rotina do quotidiano vai entrando na normalidade.

Caminha-se para os empregos, para as escolas, para as fábricas, são os mesmos passos, os mesmos rostos, mas têm uma outra vivacidade, um outro fulgor.

Os jornais dão todo o destaque aos acontecimentos da data histórica.

Diário de Lisboa é o único que puxa para a primeira página a grande notícia dos dias que vão correndo: a libertação dos presos políticos, a rendição da PIDE/DGS.

No miolo da reportagem uma pergunta óbvia, uma resposta com o seu quê daquilo que mais tarde irá acontecer:

- O que vão fazer aos pides, pergunta o repórter ao comandante dos páras.

- Temos que ter compaixão e humanidade para com eles, respondeu-nos o capitão.

Mário Castrim coloca em título no seu Canal da Crítica: Televisão, alegria do povo.


Mas são de louvor à rádio as suas primeiras palavras:


Na página 12, uma notícia que, de modo algum, a censura deixaria passar:


Na página 13, destaque para as primeiras posições dos movimentos de libertação, face aos acontecimentos ocorridos em Portugal:



Em Kinshasa, Holden Roberto recusou-se a fazer quaisquer comentários até que a situação em Portugal evolua.

Aguarda-se uma declaração formal do porta-voz oficial do MPLA.

Não foi possível contactar com responsáveis da Frelimo.

Desde Lusaka, os combatentes dos Movimentos de Libertação nos territórios africanos de Portugal não se sentem seguros se o golpe militar em Lisboa virá ajudar a luta que travam pela independência total das colónias:


Na página 15 do República a reprodução de uma carta em que o Presidente da Comissão Central pedia explicações ao Director do jornal, Raul Rego, por ter publicado um artigo que fora alvo de cortes da censura:

Na mesma página, uma pequena, mas lamentável, notícia dá conta de que, apesar da intervenção dos militares, não foi possível salvar muitos arquivos e documentos da Censura que o povo lançou à rua e foram destruídos.


Aqueles documentos eram parte da nossa história.

Estava lá nesse momento, assisti ao crime, mas como se poderia tê-lo evitado?

Quarenta e oito anos de ódio e repressão sobre um povo, cegam, pesam muito:



Na página 17, um curioso texto de louvor à Margem Sul:


Na primeira página do Diário Popular amplo destaque à apresentação da Junta de Salvação Nacional.


Com chamada para a página 12: O Almirante Américo Tomás e o Prof. Marcello Caetano Chegaram à Ilha da Madeira.

Na página 9 foco  para as cinco edições que o Diário Popular publicara no dia anterior.

Na última página destaque para as preocupações da imprensa de direita inglesa sobre o futuro de África:


Tanto o Diário de Notícias, como O Século dão amplo desenvolvimento a tudo o que foi acontecendo no dia em que ditadura caiu.

Em O Século realce para o relato da última sessão da Assembleia Nacional:


Em O Século, a primeira fotografia publicada na imprensa da prisão de três pides, passos iniciais do que vai ficar a ser conhecido como a «caça ao pide.»


Por fim, três curiosos destaques  retirados da 1ª página da Época, jornal oficial do ex-regime, ainda com o nome do ultra Barradas de Oliveira como director:


- Um movimento Militar depõe o Governo.

- O Prof. Marcelo Caetano rendeu-se ao General António de Spínola.

- Garantir a sobrevivência da nação como pátria soberana no seu todo  pluricontinental, é um dos compromissos da Junta de Salvação Nacional perante o país segundo a proclamação que o General António de Spínola leu à Nação.

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