O título deste texto roubei-o a um artigo de Fernando Venâncio publicado num JL de que não tenho a data de publicação.
De relatos
ouvidos, de relatos escritos se pode concluir que uma grande maioria de
portugueses teve conhecimento que, havia uma revolução na rua, através do
telefone.
Manuel António
Pina:
«Às 6 da manhã alguém me telefonou: “A tropa está na
rua”. Corri para o jornal inquieto»
José Saramago em
Manual de Pintura e Caligrafia:
«Dormíamos em minha casa, M. e eu, quando o Chico,
noctívago, telefonou aos gritos, que ouvíssemos a rádio.»
Ontem republicámos
o dia 24 de Abril nos jornais.
Hoje, com os
jornais do «dia inicial inteiro e limpo», continuamos e assim será até
ao dia 2 de Maio, porque seguimos a calendarização do Mário Viegas na sua «Auto-Photo
Biogrfia (não autorizada)»:
«Para mim o 25 de Abril acabou no dia 2 de Maio de
1974.»
25 de Abril de
1974
Dezassete horas e 45 minutos bastaram para derrubar uma ditadura que durou 47 anos, 10 meses, 34 dias e algumas horas.
A Assembleia
Nacional abriu portas mas, por falta de quorom, não houve
plenário.
O presidente, Engª Amaral Neto, sabedor (?) do que estava a acontecer no país, mas, possivelmente acreditando num qualquer milagre, marcou sessão para o dia seguinte, à hora regimental.
Texto lido num
jornal de que não encontro o nome, nem o autor:
«Massacravam-nos os ouvidos com afirmações de
coragem.
Diziam que, se alguma vez o chamado estado Novo
corresse perigo. Iriam dar tiros para a rua.
Afirmavam-se prontos a morrer.
Juravam, rejuravam e trejuravam que o Povo só chegaria
ao poder passando por cima dos seus cadáveres.
Gritavam aos quatro ventos que iriam vender cara a
vida.
Consideravam-se soldados de uma guerra gloriosa.
Não perdiam uma ocasião de proclamar o desejo que
tinham de provar a sua fidelidade vertendo, para tal o seu próprio sangue.
Arrotavam postas de valentia.
As suas permanentes gabarolices, infantis e
monocórdicas, tinha-nos levado a crer que, no dia da mudança, iriam fazer
qualquer coisa.
Dar um grito, por exemplo – um grito, um suspiro, um
soluço.
Mas nem isso.
No dia vinte e cinco de Abril, os heróis do palavreado
não cumpriram uma única das promessas que tinham feito.
Perderam o pio.»
Miguel Torga
escreveu no seu Diário:
«Golpe militar.
Assim eu acreditasse nos militares. Foram eles que, durante os últimos
macerados cinquenta anos pátrios, nos prenderam, nos censuraram, nos
apreenderam e asseguraram com as baionetas o poder à tirania. Quem poderá
esquecê-lo? Mas, pronto: de qualquer maneira, é um passo. Oxalá não seja
duradoiramente de parada…»
Quando os
portugueses souberam que, durante a madrugada, as Forças Armadas,
desencadearam uma série de acções com vista à libertação do país, do regime que
há longo tempo o domina, já os matutinos tinham as suas edições fechadas.
Só em segundas e
terceiras tiragens, tanto O Século como o Diário de
Notícias, deram os primeiros flashs do que estava a
acontecer.
Às 5,30
Horas O Século publica uma 2ª edição em que coloca no canto
superior direito: Ocupadas por militares algumas estações emissoras,
remetendo para Últimas Notícias. em que pouco ou nada adiantam e
ainda mantiveram a notícia da visita, ocorrida na véspera, do Chefe de Estado
Tomás ao Salão de Antiguidades.
Apenas numa 3ª edição, saída para rua às 11 horas, colocam em título a toda a
largura da 1ª página:
Movimento das Forças Armadas desencadeou uma acção
militar para deposição do regime político e colocam esta abertura a quatro colunas:
O clima de inquietação política que mais
acentuadamente vinha a patentear-se desde a segunda quinzena de Dezembro, e que
a partir da última semana de Fevereiro ganhara iniludíveis aspectos de crise,
pondo em causa a própria estabilidade do regime, culminou esta madrugada com o
desencadear de uma acção militar que de imediato proclamou o propósito de
promover a deposição da situação política vigente no País.
Uma 2ª tiragem
do Diário de Notícias dedica toda a 1ª página aos
acontecimentos:
Às
primeiras horas da madrugada de hoje eclodiu um movimento militar.
Outros destaques
da 1ª página, mostravam que se desconhecia onde se encontravam o Chefe de
Estado e o Presidente do Conselho e que o General Spínola não achou
oportuno falar ao «Diário de Notícias».
Na 2ª página,
com fotografia a três colunas, a notícia de que o Chefe de Estado recebera o
governador civil de Santarém, o presidente da Câmara Municipal de Ferreira do
Zêzere e outras individualidades da região, que o convidaram para, durante o
fim-de-semana, visitar a Freguesia de Châos, do Concelho de Ferreira do Zêzere,
que concluíra a electrificação da freguesia.
Na página de
espectáculos o anúncio da estreia às 23,45 Horas, no cinema Londres,
do filme de Alain Resnais, Hiroshima Meu Amor, largamente
retalhado pela censura e classificado para maiores de 18 anos.
No Maria
Vitória estava em representação a revista Ver, Ouvir e Calar com
Ivone Silva, Salvador, Mariema e Barroso Lopes.
Na 4ª página,
fotografia a três colunas com a notícia de que, nascidos na
segunda-feira, cisnes bebés eram presentemente a maior atracção da
Avenida da Liberdade (lago oriental).
Ma 13ª página a
crónica, assinada por Guido Carvalho dando conta da derrota Sporting no jogo
com o Magdeburgo e que finalizava deste modo:
Nada disto
aconteceu. O avião ficou retido em Madrid, os jogadores viajaram para a
fronteira e ficaram a aguardar autorização de entrada em Portugal.
Na mesma página
13, uma notícia, sem designação de publicidade qua ainda não se usava, dando
conta que o Centro Comercial Imaviz iniciava a sua fase de
arranque com a presença, vindo directamente de Nova Iorque do arquitecto Adolph
Novak.
Os jornais da
tarde, apesar de trazerem mais notícias sobre o Movimento dos Capitães, mantêm
as edições que já estavam paginadas.
No Diário
de Lisboa Mário Castrim titula a sua crónica: O sol
é bom, as mulheres vestem bem e o mais que adiante se verá...
Na página 8,
notícia de militares mortos no Ultramar e que a Guiné, por falta de
concorrentes a organização do concurso de Miss Guiné, foi obrigada a desistir à
última hora da participação da província no concurso de «Miss Portugal»
O
jornalista Armando Pereira da Silva registava a sessão do dia anterior na
Assembleia Nacional:
Na última
página, um comunicado do Movimento das Forças Armadas que tinha
sido difundido pelo Rádio Clube Português:
Olhando a 1ª
página do Diário Popular, constata-se que, a propósito de um
comunicado pedindo o fecho dos estabelecimentos comerciais, ao Movimento das
Forças Armadas, às 11,40 horas chama-se sublevados.
A fotografia de
toda a 1ª página tem como legenda:
«A meio da manhã, na Rua do Arsenal, frente a
frente forças leais ao governo e forças revolucionários.»
Legenda: Capa da 1ª página do República
de 25 de Abril de 1974.
Em rodapé a vermelho:
Em rodapé a vermelho:
ESTE JORNAL NÃO
FOI VISADO POR QUALQUER COMISSÃO DE CENSURA
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