Por 50 Cêntimos,
num desses vãos de escada que ainda se podem encontrar nos velhos bairros de
Lisboa, vendendo de tudo um pouco, comprei este livro do Carlos Pinhão.
Comprei-o,
principalmente, pelo que um avô sportinguista, corria o dia 16 de Maio de 1991,
num bonito gesto de ternura, escreveu para o seu neto benfiquista:
«Para o João com um grande “viva ao Benfica campeão”».
Não sabemos se o
João leu o livro, pela capa, pelo miolo, podemos concluir que não tem o mínimo
sinal de ter sido lido, mas sabemos que o «despachou» e ter-lhe-ão dado uma
ridicularia.
Serviu para quê,
esse pouco dinheiro?
Nem para uma
caixa de «chiclets» terá dado.
E aquele gesto
de ternura do avô que tanto me agradara, passou a tristeza, reflexo da
insensibilidade do João face ao gosto do avô lhe ter comprado o livro do Carlos
Pinhão e que acabou num vão de escada de compra e venda de livros em 2ª mão.
Se o lesse teria
reparado no que o Carlos Pinhão, a dado passo escreveu:
«Jogar é bom, faz bem, mas não é tudo, os jovens devem
criar outros hábitos que contribuam para um desenvolvimento harmoniosos do
corpo e do espírito… Por exemplo, ler…»
Mas os jovens
não lêem.
Lembrar aquela
história do petiz a quem o Raul Solnado perguntou se gostava de ler e que lhe
respondeu: «Evito!»
José Tolentino
Mendonça:
«Conversava com uns amigos preocupados com o filho que
anda agora pelos 17 anos. São ambos professores, os corredores de casa parecem
uma biblioteca, mas o filho não lê um livro. Às vezes, dão por si a olhá-lo
como se olha um estranho cuja língua e hábitos se ignoram. Não sabem como se
formou o muro cultural que os separa. Veem-no horas e horas retido no ecrã do
telemóvel, obsidiado por aquele retângulo brilhante, aos olhos deles fazendo
nada. Lamentam o que lhes parece ser uma dependência, mas sentem-se impotentes.
Quando tentam explicar-lhe que o ecrã é uma gaiola de vidro onde se deixa
aprisionar, o filho levanta a cabeça, olha-os também sem entendê-los, mas sem
intenção de substituir o que o ocupa por um livro qualquer. A primeira coisa de
que me recordei — e que lhes disse — foi uma frase do escritor Gianni Rodari:
“O verbo ler não suporta o imperativo.” Ler é uma atividade indissociável da
curiosidade e do desejo. É preciso aprender a senti-la como uma necessidade
interior, um gosto, uma alegria que pode até ser frívola e profunda ao mesmo
tempo, um encontro a que nos dispomos sem porquê. Não basta uma ordem ou um
conselho repetido. Falta uma iniciação que seja digna desse nome. E, a esse
propósito, lembrei-lhes o que dizia Rubem Alves: que era pela cozinha que
deveríamos sempre entrar numa sala de aulas, pois ensinar é a arte de despertar
a fome em alguém.»
Carlos Pinhão era
uma pessoa amável, um competente jornalista desportivo de A Bola e autor de
histórias infanto-juvenis.
Devo ao
jornal A Bola ter-me dado a conhecer o poeta Ruy Belo.
Motivo para a
seguir fazer uma revisão de matéria dada.
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