quarta-feira, 24 de abril de 2019

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Por 50 Cêntimos, num desses vãos de escada que ainda se podem encontrar nos velhos bairros de Lisboa, vendendo de tudo um pouco, comprei este livro do Carlos Pinhão.

Comprei-o, principalmente, pelo que um avô sportinguista, corria o dia 16 de Maio de 1991, num bonito gesto de ternura, escreveu para o seu neto benfiquista:

«Para o João com um grande “viva ao Benfica campeão”».

Não sabemos se o João leu o livro, pela capa, pelo miolo, podemos concluir que não tem o mínimo sinal de ter sido lido, mas sabemos que o «despachou» e ter-lhe-ão dado uma ridicularia.

Serviu para quê, esse pouco dinheiro?

Nem para uma caixa de «chiclets» terá dado.

E aquele gesto de ternura do avô que tanto me agradara, passou a tristeza, reflexo da insensibilidade do João face ao gosto do avô lhe ter comprado o livro do Carlos Pinhão e que acabou num vão de escada de compra e venda de livros em 2ª mão.

Se o lesse teria reparado no que o Carlos Pinhão, a dado passo escreveu:

«Jogar é bom, faz bem, mas não é tudo, os jovens devem criar outros hábitos que contribuam para um desenvolvimento harmoniosos do corpo e do espírito… Por exemplo, ler…»

Mas os jovens não lêem.

Lembrar aquela história do petiz a quem o Raul Solnado perguntou se gostava de ler e que lhe respondeu: «Evito!»

José Tolentino Mendonça:

«Conversava com uns amigos preocupados com o filho que anda agora pelos 17 anos. São ambos professores, os corredores de casa parecem uma biblioteca, mas o filho não lê um livro. Às vezes, dão por si a olhá-lo como se olha um estranho cuja língua e hábitos se ignoram. Não sabem como se formou o muro cultural que os separa. Veem-no horas e horas retido no ecrã do telemóvel, obsidiado por aquele retângulo brilhante, aos olhos deles fazendo nada. Lamentam o que lhes parece ser uma dependência, mas sentem-se impotentes. Quando tentam explicar-lhe que o ecrã é uma gaiola de vidro onde se deixa aprisionar, o filho levanta a cabeça, olha-os também sem entendê-los, mas sem intenção de substituir o que o ocupa por um livro qualquer. A primeira coisa de que me recordei — e que lhes disse — foi uma frase do escritor Gianni Rodari: “O verbo ler não suporta o imperativo.” Ler é uma atividade indissociável da curiosidade e do desejo. É preciso aprender a senti-la como uma necessidade interior, um gosto, uma alegria que pode até ser frívola e profunda ao mesmo tempo, um encontro a que nos dispomos sem porquê. Não basta uma ordem ou um conselho repetido. Falta uma iniciação que seja digna desse nome. E, a esse propósito, lembrei-lhes o que dizia Rubem Alves: que era pela cozinha que deveríamos sempre entrar numa sala de aulas, pois ensinar é a arte de despertar a fome em alguém.»

Carlos Pinhão era uma pessoa amável, um competente jornalista desportivo  de A Bola e autor de histórias infanto-juvenis.

Devo ao jornal A Bola ter-me dado a conhecer o poeta Ruy Belo.

Motivo para a seguir fazer uma revisão de matéria dada.

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