Hoje, que temos
na internet ferramentas que nos facilitam trabalhos, podemos pensar em todos
aqueles que, em outros tempos, tinham imensas dificuldades para escreverem os seus
artigos, as suas conferências, os seus livros.
Isso deveria
levar-nos a ter ainda mais consideração por tudo o que nos deixaram.
Peguemos, por
exemplo, na Correspondência trocada entre António Ramos Rosa e Jorge de Sena.
Numa carta,
datada de 12 de Janeiro de 1974, Jorge de Sena pedia a António Ramos Rosa:
«E agora aproveito a oportunidade para pedir-lhe um
pequeno favor, que se reporta às notas que já fiz para os novos volumes de
traduções minhas de poesia, coligidas. É que não consigo de maneira nenhuma
encontrar indicação de se o Pierre Jean Jouve e o Jacques Prévert ainda estão
vivos, e, se morreram, quando foi; e dados biográficos (bibliográficos encontro
eu) do Georges Hunet que foi membro do grupo surrealista e de cuja poesia gosto
muito (onde e quando nasceu, se morreu e quando, etc.). Talvez V. me possa
ajudar quanto a estas informações.»
António Ramos
Rosa, fragilizado como quase sempre foi a sua vida, respondia-lhe em carta datada
de 21 de Fevereiro de 1974:
Se não fosse o meu estado seria de facto indesculpável
não lhe ter escrito há mais tempo para lhe fornecer as informações que me pedia
sobre os poetas franceses, Não descurei o assunto, mas muito pouco consegui
apurar ao certo. Nos meus livros, os únicos dados biográficos que consegui
obter sobre Georges Hugner, foram os seguintes (em Le Surrealisme, de Robert Bréchon,
ed. Armand Colin, pp 187 e 199 de uma Cronologia): a adesão em 1930 ao grupo
surrealista, juntamente com Dali, Buñuel, Char, Sadoul; e a exclusão do mesmo
em 1938, juntamente com Dali. É alguma coisa mas não encontrei o mais
importante: nem a data do nascimento, nem a data da morte, se é que ele já
morreu. Quanto aos outros, nada consegui saber ao certo: não me consta que
tenham morrido, pelo menos o Prévert que, segundo me informaram, publicou há
poucos meses um livro. Penaliza-me não ter obtido mais informações, mas não
consegui, apesar de ter consultado todos os livros de que dispunha, meus e de
alguns amigos. Não encontrei os de Maurice Nadeau, onde talvez se encontrassem
mais dados biográficos sobre Georges Hugner.
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