sexta-feira, 26 de abril de 2019

NOS TEMPOS EM QUE NÃO HAVIA GOOGLE...


Hoje, que temos na internet ferramentas que nos facilitam trabalhos, podemos pensar em todos aqueles que, em outros tempos, tinham imensas dificuldades para escreverem os seus artigos, as suas conferências, os seus livros.
Isso deveria levar-nos a ter ainda mais consideração por tudo o que nos deixaram.
Peguemos, por exemplo, na Correspondência trocada entre António Ramos Rosa e Jorge de Sena.
Numa carta, datada de 12 de Janeiro de 1974, Jorge de Sena pedia a António Ramos Rosa:

«E agora aproveito a oportunidade para pedir-lhe um pequeno favor, que se reporta às notas que já fiz para os novos volumes de traduções minhas de poesia, coligidas. É que não consigo de maneira nenhuma encontrar indicação de se o Pierre Jean Jouve e o Jacques Prévert ainda estão vivos, e, se morreram, quando foi; e dados biográficos (bibliográficos encontro eu) do Georges Hunet que foi membro do grupo surrealista e de cuja poesia gosto muito (onde e quando nasceu, se morreu e quando, etc.). Talvez V. me possa ajudar quanto a estas informações.»

António Ramos Rosa, fragilizado como quase sempre foi a sua vida, respondia-lhe em carta datada de 21 de Fevereiro de 1974:

Se não fosse o meu estado seria de facto indesculpável não lhe ter escrito há mais tempo para lhe fornecer as informações que me pedia sobre os poetas franceses, Não descurei o assunto, mas muito pouco consegui apurar ao certo. Nos meus livros, os únicos dados biográficos que consegui obter sobre Georges Hugner, foram os seguintes (em Le Surrealisme, de Robert Bréchon, ed. Armand Colin, pp 187 e 199 de uma Cronologia): a adesão em 1930 ao grupo surrealista, juntamente com Dali, Buñuel, Char, Sadoul; e a exclusão do mesmo em 1938, juntamente com Dali. É alguma coisa mas não encontrei o mais importante: nem a data do nascimento, nem a data da morte, se é que ele já morreu. Quanto aos outros, nada consegui saber ao certo: não me consta que tenham morrido, pelo menos o Prévert que, segundo me informaram, publicou há poucos meses um livro. Penaliza-me não ter obtido mais informações, mas não consegui, apesar de ter consultado todos os livros de que dispunha, meus e de alguns amigos. Não encontrei os de Maurice Nadeau, onde talvez se encontrassem mais dados biográficos sobre Georges Hugner.

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