terça-feira, 2 de abril de 2019

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A ditadura salazarista/Caetanista proibiu milhares e milhares de livros.

Uma longa e miserável história.

A Crónica dos Pobres Amantes foi um desses livros apreendidos.

Comprei-o, juntamente com meia dúzia de números do Almanaque, numa barraca,
que vendia  livros em segunda mão, que durante muitos anos existiu logo à entrada do Parque Mayer.

Deixo esta transcrição tirada do prefácio do poeta José Blanc de Portugal:

«A Crónica dos Pobres Amantes é das raras «sinfonias» em prosa em que se aproveita o folclore de uma cidade multissecular e da sua humanidade. O resto são processos e era possível reescrever a Crónica com os fascistas no papel dos bons e os “subversivos” a fazerem de tiranos. O fascismo teria ensinado a um Mário fascista o mesmo que o Partido ensinou ao Mário comunista: que era «preciso perseguir até ao fim a felicidade através dos erros e dos sofrimentos quando se tem a certeza de seguir pelo caminho que a ela conduz». É o que aprendemos em todos os partidos e em todas as crenças religiosas ou políticas.»

No findar do prefácio, Blanc de Portugal revela que a tradução demorou dois anos a ser feita.

O prefácio está datado de Polana aos 14 de Junho de 1957.

«Escrevemo-la nas margens de dois oceanos, em dois continentes e em cinco territórios ou países. (…) O vosso tradutor português procurou mais a fidelidade e o espírito do estilo original do que primores literários mais pessoais em que provavelmente ainda mais se perderia. Pios leitores, rezai uma Ave-Maria pelos tradutores culpados ou caluniados – sempre incompreendidos e inglórios servidores das letras que só lhes pertencem por empréstimo. Traduções perfeitas? «Que ideia pândega!» Seria inda mais extraordinário do que um «Um aviadoe na Via del Corno!» como se lê na última página deste romance.»

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