A ditadura
salazarista/Caetanista proibiu milhares e milhares de livros.
Uma longa e
miserável história.
A Crónica dos
Pobres Amantes foi um desses livros apreendidos.
Comprei-o, juntamente
com meia dúzia de números do Almanaque, numa barraca,
que vendia livros em segunda mão, que durante muitos anos
existiu logo à entrada do Parque Mayer.
Deixo esta
transcrição tirada do prefácio do poeta José Blanc de Portugal:
«A Crónica dos Pobres Amantes é das raras
«sinfonias» em prosa em que se aproveita o folclore de uma cidade multissecular
e da sua humanidade. O resto são processos e era possível reescrever a Crónica com
os fascistas no papel dos bons e os “subversivos” a fazerem de tiranos.
O fascismo teria ensinado a um Mário fascista o mesmo que o Partido ensinou ao
Mário comunista: que era «preciso perseguir até ao fim a felicidade através dos
erros e dos sofrimentos quando se tem a certeza de seguir pelo caminho que a
ela conduz». É o que aprendemos em todos os partidos e em todas as crenças
religiosas ou políticas.»
No findar do
prefácio, Blanc de Portugal revela que a tradução demorou dois anos a ser
feita.
O prefácio está
datado de Polana aos 14 de Junho de 1957.
«Escrevemo-la nas margens de dois oceanos, em dois
continentes e em cinco territórios ou países. (…) O vosso tradutor português
procurou mais a fidelidade e o espírito do estilo original do que primores
literários mais pessoais em que provavelmente ainda mais se perderia. Pios
leitores, rezai uma Ave-Maria pelos tradutores culpados ou caluniados – sempre
incompreendidos e inglórios servidores das letras que só lhes pertencem por
empréstimo. Traduções perfeitas? «Que ideia pândega!» Seria inda mais
extraordinário do que um «Um aviadoe na Via del Corno!» como se lê na última
página deste romance.»
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