Amiúde é mais difícil desfazermo-nos de um livro do
que obtê-lo. Ligam-se a nós num pacto de necessidade e de esquecimento, como se
fossem testemunhas de um momento das nossas vidas ao qual não regressaremos.
Mas enquanto aí permanecerem, presumidos tê-los juntado. Vi que muita gente
coloca a data, o dia, o mês e o ano da leitura; traçam um discreto calendário.
Outros escrevem o seu nome na primeira página, antes de os emprestarem, anotam
numa agenda o destinatário e acrescentam-lhe a data. Vi volumes carimbados como
os das bibliotecas públicas ou com um delicado cartão do proprietário no seu
interior. Ninguém quer extraviar um livro. Preferimos perder um anel, um relógio,
o chapéu-de-chuva, do que o livro cujas páginas não mais leremos mas que
conservam, na sonoridade do seu título, uma antiga e talvez perdida emoção.
2 comentários:
E livro emprestado é livro empretadado!
Perdi livros que emprestei e não recuperei.
Há um provérbio, penso que seja português, que diz que não se deve nem emprestar livros, nem as mulheres. Nunca devolvem os livros, as mulheres, sempre.
Hoje, as coisas estão um pouco mais simplificadas: os amigos deixaram de pedir livros emprestados, preocupam-se com o facebook, o twiter, o instagram, outras modernices de que desconheço o nome.
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