Não há vez alguma que passe pela porta do Gambrinus que
não me lembre do Fernando Lopes.
Porque o balcão do Gambrinus era o lugar preferido do
Fernando Lopes, tinha outros mas o Gambrinus é que era.
Ao ponto de, numa
entrevista deixou dito, cito de memória, que um do seus grandes sonhos era ter ali uma
placa bem visível com o seu nome, assim ao jeito das cadeiras de lona dos
realizadores..
Maravilhado, ainda estou sentado da sala Estúdio do Cinema
Império a assistir ao filme que Fernando Lopes realizou, adaptando Uma Abelha na Chuva de Carlos de Oliveira.
Jamais esquecerei.
Luís de Pina escreveu que Uma Abelha na Chuva de Fernando Lopes «é talvez o momento
estético mais importante do cinema novo português.»
No dia da morte de
Fernando Lopes, « um
visionário que não teve mais eco»
Jorge Silva Melo, velho companheiro do cineasta, escreveu:
«O cinema do Fernando Lopes tinha a liberdade e a delicadeza das
composições de jazz. Tinha uma forte presença musical. E era o cinema da
amizade porque é indissociável dos seus amigos. O Belarmino [começou assim,
nas] noites de conversa e amizade no café na Avenida da Liberdade, que foi
gravando na pedra. O Baptista-Bastos, o Alexandre O’Neill, o Alberto Seixas
Santos a irem depois comer as comidas da mãe do Fernando na Avenida de Roma.
Ele prezava os amigos, dava-se bem com toda a gente e era impossível resistir
ao Fernando. Os seus filmes são sobre isso e são também a solidão em que foi
avançando ao longo da vida. Não era ra ele a compadecer-se com as suas dores,
era ele a encontrar um amigo. Era um entusiasta e espalhava imensa ternura por
todos. Mas ele ficava genuinamente feliz com as conquistas dos outros. Não se
desanimava com seus filmes não terem êxito. Queixava-se muito que os meios de
produção actuais estavam esclerosados, e dizia que era precisa uma nova
nouvelle vague, com meios mais ligeiros para fazer cinema. O Fernando gostava
de meter as mãos na massa que eram os filmes dos outros. Há uma famosa história
em que depois da estreia de Verdes Anos, de Paulo Rocha, foram para o
laboratório cortar 3 minutos no positivo, porque o Fernando achava que ainda
havia coisas para acertar. Tinha 14 ou 15 anos quando vi o “Belarmino” e
conheci o Fernando à mesa do Monte Carlo, um café que existia no Saldanha.»
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