Magníficas Obsessões: João Bénard da Costa, Um
Programador de Cinema
Antonio
Rpdrigues
Capa: Nuno
Rodrigues
Cinemateca Portuguesa- Museu do Cinema,
Lisboa, Janeiro de 2011
João Bénard da Costa nunca teve nada de marginal e não
morreria de todo de modo semelhante a Henri Langlois. Em vez de cair morto no
sofá da sua sala, teve quatro meses de “frente a frente cristão com a morte”, para retomarmos a expressão
de Saint-Simon nas suas Memórias. Como vimos, este fim, longo e dolorosos, fora
antecedido por uma também longa organização oficiosa, por ele mesmo, do seu
adeus, so seu funeral de programador, numa celebrada mise en scène. Tão
elaborada que no último mês da sua presença na Cinemateca portuguesa (Dezembro
de 2008), em mais um jogo de simetrias, chegou ao fim um ciclo de filmes e teve
início outro, um dedicado a John Carpenter e o outro a Clint Eastwood. Duas
imagens de autor. Na sua mania pelas datas certas, ele deixou efectivamente a
Cinemateca portuguesa no último dia útil de 2008. Talvez tenha percorrido os
gabinetes para desejar um bom ano aos colaboradores da Cinemateca, como
costumava fazer, embora alguns já tivessem ido para casa. Num dos primeiros
dias úteis de 2009, ainda passou rapidamente pela Cinemateca, para assinar
algum documento. Alguns dias depois entrou para o hospital para ser operado.
Morreu cerca de cinco meses depois, no dia 21 de Maio, uma Quinta-feira, cedo
pela manhã. Todas as sessões da Cinemateca nesse dia e nos dois que se seguiram
foram canceladas, em sinal de luto. Mas no dia 22 houve uma sessão realmente
especial. Enquanto o seu corpo era velado na igreja que ele próprio designara
para o seu velório, a Cinemateca com as portas franqueadas a todos, mostrava um
filme, o seu “filme da vida” que por caminhos secretos talvez fosse, de certa
forma, o filme da vida dele: JOHNNY GUITAR. Foi a última sessão de cinema
programada por João Bénard da Costa, já depois de morto, como um Cid Campeador
da programação de cinema.
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