sábado, 13 de abril de 2019

OLHAR AS CAPAS


Magníficas Obsessões: João Bénard da Costa, Um Programador de Cinema

Antonio Rpdrigues
Capa: Nuno Rodrigues
Cinemateca Portuguesa- Museu do Cinema, Lisboa, Janeiro de 2011

João Bénard da Costa nunca teve nada de marginal e não morreria de todo de modo semelhante a Henri Langlois. Em vez de cair morto no sofá da sua sala, teve quatro meses de “frente a frente cristão com a morte”, para retomarmos a expressão de Saint-Simon nas suas Memórias. Como vimos, este fim, longo e dolorosos, fora antecedido por uma também longa organização oficiosa, por ele mesmo, do seu adeus, so seu funeral de programador, numa celebrada mise en scène. Tão elaborada que no último mês da sua presença na Cinemateca portuguesa (Dezembro de 2008), em mais um jogo de simetrias, chegou ao fim um ciclo de filmes e teve início outro, um dedicado a John Carpenter e o outro a Clint Eastwood. Duas imagens de autor. Na sua mania pelas datas certas, ele deixou efectivamente a Cinemateca portuguesa no último dia útil de 2008. Talvez tenha percorrido os gabinetes para desejar um bom ano aos colaboradores da Cinemateca, como costumava fazer, embora alguns já tivessem ido para casa. Num dos primeiros dias úteis de 2009, ainda passou rapidamente pela Cinemateca, para assinar algum documento. Alguns dias depois entrou para o hospital para ser operado. Morreu cerca de cinco meses depois, no dia 21 de Maio, uma Quinta-feira, cedo pela manhã. Todas as sessões da Cinemateca nesse dia e nos dois que se seguiram foram canceladas, em sinal de luto. Mas no dia 22 houve uma sessão realmente especial. Enquanto o seu corpo era velado na igreja que ele próprio designara para o seu velório, a Cinemateca com as portas franqueadas a todos, mostrava um filme, o seu “filme da vida” que por caminhos secretos talvez fosse, de certa forma, o filme da vida dele: JOHNNY GUITAR. Foi a última sessão de cinema programada por João Bénard da Costa, já depois de morto, como um Cid Campeador da programação de cinema.

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