Há editores e há
editores.
Por norma, são
personagens malquistos, há excepçoes, muito poucas, diga-se.
A maior parte
são comerciantes sem escrúpulos, enganando os seus autores, pagando
miseravelmente, principalmente as traduções
Pela entrevista
que Maria Ondina Braga deu à revista Ler, ficámos a saber dos maus
tratos que os seus livros, ela própria, mereceram dos editores que lhe calharam
em (des)sorte.
«O meu
primeiro livro Eu Vim Para Ver a Terra foi um livro que me
trouxe grande desgosto: saiu cheio de cortes e gralhas, o editor não me deu
para revisão, os caracteres chineses apareceram até ao contrário!
Traduzi durante mais de dezanove anos, quase vinte, e
hoje, ao lembrar-me disso, espanto-me. Traduções que me pagavam um ano e dois
anos depois de as ter entregado, que, às vezes, uma editora (pelo menos) não me
quis pagar. Isto já sem falar do pouquíssimo que pagavam todas. E não recebia
nenhuma percentagem nas edições frequentemente sucessivas, nem quando o editor
vendia o livro a uma organização editorial.
A minha sorte tem sido bem fraca: editores que não
pagam os direitos de autor ou pagam apenas uma mínima parte, não dão à
Sociedade Portuguesa de Autores a relação dos livros existentes, houve um que
fez edições piratas a há depois os que abrem falência, o autor fica separado da
sua obra, como aconteceu com a editora dos meus dois últimos livros, não pagou,
o caso foi para contenciosos da SPA, que, por sua vez, também nada resolve.
Nunca tive um editor que se empenhasse na promoção da minha obra».
Maria do Rosário
Pedreira é editora na Leya:
«Tive de me
habituar a outra coisa, essa bem mais difícil, que é a de ter acima de nós
pessoas que não gostam de ler, pessoas que não percebem o que é um livro. Isso
é dramático.»
Manuel Alberto Valente é responsável
editorial no grupo Porto Editora:
«Há 30 anos, os
editores procuravam autores. Com a criação dos grandes grupos editoriais e da
chamada indústria editorial, a edição começou a procurar o que o leitor quer
ler. E porque o que o leitor quer ler nem sempre é o melhor, o nível da edição
baixou.»
Opinião do
escritor chileno Luís Sepúlveda:
«Há cada vez menos editores de verdade e cada vez mais
managers que vendem livros conmo se fossem batatas ou bananas. Eles não falam
de livros mas de produtos. Não falam de letras mas de números. Não falam de
leitores mas de compradores. Com “yuppies à frente das grandes editoras,
geram-se situações canalhas. Oferecem menos dinheiro aos escritores e chantageiam-nos,
dizendo-lhes que não faltam escritores que queiram publicar.»
Numa carta,
datada de Paris, 5 de Julho de 1969, António José Saraiva, em carta para Óscar
Lopes, referia os problemas que tinha com o editor Francisco Lyon de Castro das
Publicações Europa-América:
«Em Outubro de 1965, carta minha de 31, lembrei ao
Lyon de Castro que a 8ª edição da História da Literatura (Colecção Saber), então a imprimir,
devia levar a minha chancela, segundo o contrato assinado. Respondeu em 4 de
Novembro que o «o livro já estava à venda» e por isso não podia ser rubricado.
Em 4 de Abril de 66 o Lyon de Castro noticiava-me que
a História da Literatura tinha
sido proibida pela Censura.
Em 19 de Maio de 1967, os serviços de contabilidade da
Europa-América comunicavam-me, incidentalmente, que a proibição tinha sido
levantada, «encontrando-se de novo a obra à venda».
Segundo saraiva
houve um longo silêncio de Lyon de Castro. Só volta a escrever em 26 de Agosto
de 1968 e não falava da História da Literatura.
Entre esta data
e 19 de Março de 1969 Saraiva recebeu 8 cartas do editor e em nenhuma era
falada o que se passava com o livro.
«Intrigado com isto perguntei-lhe em carta de 24-3-69 notícias
do livro (além de outros assuntos). Em carta de 10 de Abril respondeu quanto a
este ponto: «História da Literatura portuguesa; responde-se à parte». Mas na
carta não vinha qualquer aparte sobre o assunto.
Em carta de 29 de Abril dizia-me o seguinte: «A
libertação do livro determinou um movimento de vendas que nos forçou a uma
rápida reedição de 3000 exemplares em Dezembro/68. No Brasil também se sabia
que a obra estava proibida e logo que ela foi libertada fizemos uma intensa
propaganda o que determinou uma grande procura, a que tivemos de responder
rapidamente.»
António José
Saraiva conclui que Lyon de Castro não lidou com lisura com ele.
«Só vejo uma solução para o meu problema com o Lyon de
Castro: é desligar-me dele. Até hoje foi o único editor intrujão que tive e já
fui editado em cinco casas.»
Ainda sobre o
editor Francisco Lyon de Castro, recorro ao 9º volume dos Dias Comuns de
José Gomes Ferreira, numa entrada datada
de 22 de Junho de 1970:
«O Palma-Ferreira apareceu a certa altura do serão em
casa do fafe, nervosíssimo, cheio de notícias e de escândalos imaginários.
- O Namora vai-se embora da Europa-América, o Lyon de
Castro é um malandro, roubou-me cinquenta e tal contos. Não me quer pagar os
direitos de autor do meu livro As Eleições de Outubro de 1969 com pretexto de
que o compilei durante as horas de trabalho na Europa-América… Ora, tínhamos combinado
que descontaríamos essas horas no meu ordenado… É um gatuno, etc., etc. »
Num interessante
livro a que chamou Olhar de Editor, Serafim Ferreira ergue uma memória
em honra e glória de alguns editores: Luiz de Montalvor (Ática), Delfim
Guimarães (Guimarães Editores), António Pedro (Confluência), Figueiredo
Magalhães, (Ulisseia), Manuel Rodrigues de Oliveira (Cosmos), Manuel Rodrigues
(Minerva). Viriato Camilo (Prelo), Luiz Pacheco (Contraponto).
Acrescento Rogério
Mendes de Moura, Vitor Silva Tavares, Nelson de Matos, Zeferino Coelho e Fernando
Vale e um interessante número de pequenos editores que vão fazendo o seu trabalho
de amor aos livro e não cifrões
Em O Homem dos
Comboios, Eric Lomax escreve a abrir:
«Este livro tem uma incomensurável dívida de gratidão
com a criatividade e o talento de Neil Belton. O seu inestimável contributo
para o texto final excedeu em muito a habitual relação entre autor e editor.
Reconheço que sem sua ajuda eu não teria sido capaz de forma final a tudo
aquilo sobre que reflecti ao longo dos últimos cinquenta anos.»
Na morte de
André Jorge, fundador da Editora Cotovia, disse o escritor Pedro Paixão:
«Se não fosse meu editor eu não publicava nada.»
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