quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

OLHARES


 O que ele gostava dos cafés de Lisboa.

Um dos muitos simples prazeres da sua vida.

Depois começaram a transformá-los em agências bancárias, em casas de trapos.

As grandes mágoas que então nasceram.

Quando José Rodrigues Miguéis foi obrigado ao exílio nos Estados Unidos, o primeiro grande choque que enfrentou foi a não existência de cafés.

Sua mulher Camila conta o episódio:

«Quando chegou aos Estados Unidos a primeira coisa que o ia matando foi quando descobriu que não havia cafés. Como é que podia viver sem um café onde encontrava os amigos, onde se sentava e levantava logo que se sentia desconfortável ou aborrecido, ou quando lhe surgia uma ideia e tinha de regressar a casa para a escrever? Como é que as pessoas podiam viver daquela forma? Isto foi um problema muito, muito difícil para ele, e eu sentia-me desanimada, porque não o podia resolver. Quando lhe disse o que tínhamos – restaurantes, cafetarias, balcões, vários locais -, ele disse: «Mas eu estou a falar de um café; tu não percebes.» E esta situação aborreceu-o a vida toda. Aborreceu-o mesmo.»

Foi dura, e inglória, a luta pela manutenção dos cafés.

O poeta José Gomes Ferreira nos seus Dias Comuns fala dessas lutas, quando juntamente com o Carlos de Oliveira, O Augusto Abelaira, tantos outros, andaram em bolandas, de café para café que lhes dessa possibilidades de manterem as suas tertúlias.

Os cafés da minha preguiça" como escreveu o Mário de Sá-Carneiro.

Ler o jornal, um livro num café com uma bica à frente.

Jorge Silva Melo: Sabores de outros tempos: o ovo a cavalo, o molho, as batatas fritas dos velhos cafés de Lisboa.

Façamos a evocação de um café de Lisboa: o Vává, símbolo dos anos 60 que viu nascer o cinema novo português, também músicas, conspirações várias.

Lauro António, que há dias nos deixou, escreveu diversas crónicas sobre a cidade no jornal digital  «Mensagem de Lisboa».

Uma dessas crónicas lembra o VáVá e a sua história:

Nasci em 1942, em Campo de Ourique. Passei sete anos da minha vida em Portalegre, para onde o meu pai, professor, foi deslocado para se efectivar. Regressei a Lisboa em 1958 e vim morar para as avenidas novas, precisamente para a avenida dos EUA, muito perto do cruzamento com a avenida de Roma. O Café Restaurante Vavá existe desde esse ano e foi um dos meus cafés de eleição. Os outros foram a Grãfina e o Nova Iorque

Além de mais, tem sido o meu café-restaurante prioritário, acompanhei todas as transformações, lidei com todas as gerências, fui assistindo à reciclagem da clientela, e descobri que o espaço, apesar de tudo, se mantém como local de culto e de saudosa romagem. Por isso vale a pena contar a história física, que é pouca, mas sobretudo recordar o espírito do lugar, que se conserva, muito para lá das vicissitudes do tempo e dos circunstancialismos vários da vida de cada um.

Julgo ser, por isso, uma pessoa bem informada para dar conta do recado, ainda que nestes casos, o recado, por muito factual que se queira, tenha sempre de ser subjectivo, com o que a posição comporta de risco, mas também de sinceridade. O meu testemunho não é totalmente imparcial e a tender para o abstracto, antes se afirma desde início, pessoal e apaixonado. Esta será uma “visão”, uma “visão” possível entre muitas outras, de um espaço que vem cumprindo, vai para cima de seis décadas, a função para que foi criado.

 OVavá nasceu em 1958, criado por uma dupla de gerentes, dois irmãos, Petrónio e Luís Gonzaga. Irmãos que apenas se pareciam no apelido, e igualmente na gentileza, dado que um era basto volumoso, de presença imponente, arrastando por detrás do balcão uma bonomia ruborizada, enquanto o outro, mais discreto e aprumado, ia deslizando delicadamente pelo mesmo balcão. Às vezes em simultâneo, outras revezando-se no comando das operações.

 O Vavá que eles idealizaram era um espaço enorme, que abrangia o que ainda hoje lhe compete, e ainda o que o Banco BPI agora ocupa e lhe comprou. O Vavá não era apenas o dobro, em extensão, à superfície, mas ainda possuía uma extensa cave, onde se encontrava uma, na época, muito disputada sala de bilhares.

 A decoração inicial produziu o milagre que ainda hoje perdura, apesar de pouco restar dela presentemente. Mas todo o recinto ganhava um ar acolhedor e recolhido, com as madeiras de um castanho-escuro, os maples de couro, igualmente de castanho-escuro, colados juntos às paredes, circulando todo o espaço. Mesas e cadeiras a condizer e um balcão que dividia a sala em duas, sem as tornar isoladas, como hoje acontece, pela intromissão de uma parede que não fazia parte da estrutura original.

 A iluminação era dourada, discreta, difusa, pequenos candeeiros desciam do tecto sobre as mesas, o ambiente era intimista, o que terá seduzido a clientela destas avenidas novas que iam surgindo lentamente por estes lados.

Não muito longe do cruzamento da Avenida de Roma com a Avenida dos EUA, nesta praça onde se encontram frente a frente o Vavá e o Luanda, começavam as quintas e os quintais, viam-se rebanhos de ovelhas e cabras e cultivavam-se as couves. Paulo Rocha fala dos “Verdes Anos” destes locais no seu filme, um dos que abriu caminho ao Novo Cinema Português (curiosamente o Novo Cinema marchou lado a lado com o Vavá, mas disso falarei mais a frente).

 Avenidas Novas, vidas novas, novos arrendatários. Quem veio habitar estes bairros foram os filhos da burguesia endinheirada, num período em que a estabilidade social e uma ligeira abertura ao exterior permitiram a ascensão de novas classes profissionais, vivendo com relativo desafogo, que lhes possibilitava pagar rendas mais caras, e usufruir de maior qualidade de vida.

 Do Areeiro à Avenida do Brasil, a Avenida de Roma era o exemplo da modernidade em Lisboa. Aqui se vinham descobrir as novidades, na moda, nos usos e costumes. Os quarteirões encheram-se de jovens de novas profissões: publicidade, moda, canção, cinema, televisão, aviação, arquitectura, decoração, etc. Mas, por detrás dessas luxuosas avenidas novas, existiam novos bairros de habitação social que contribuíam igualmente para o aparecimento de uma população diferente e diversificada.

 Foram esses os frequentadores habituais do Vavá nesses primeiros anos. Foram eles que criaram o estilo da casa e impuseram um tom. Aberto até de madrugada (fechava às duas da manhã), permitia a criação de tertúlias espontâneas, de amigos e conhecidos que todas as noites ali se reuniam para falar e discorrer sobre os mais variados temas, com a política sempre como prato de resistência.

 É importante referir que os finais da década de 1950 e o início da de 60 foram tempos difíceis para o governo de Salazar. Poucos meses depois das eleições de 1958, que opuseram Humberto Delgado a Américo Tomás, e que este haveria de ganhar com batota descarada, abria o Vavá. Iniciava-se igualmente um tempo de revolta e conspiração sem precedentes na história do Estado Novo.

 Em todas as tertúlias lisboetas se comentava o que não se podia saber pela informação escrita, radiofónica ou televisiva (a RTP acabava igualmente de iniciar as suas transmissões) e se soprava de ouvido a ouvido. O Vavá não era excepção. Congregando clientes já de alguma idade com a rebeldia da juventude, o Vavá era local de conspiração certa (segura nunca seria, pois “os olhos e os ouvidos” do regime estavam um pouco por todo o lado).

 A proximidade da Cidade Universitária criava outra clientela, maioritariamente irreverente e interventiva. Os alunos que vinham estudar para a capital escolhiam quartos de abrigo perto das faculdades. Este era outro potencial cliente, que o Vavá logo aglutinou. A contestação universitária que eclodiu em pleno durante a crise académica de 1962 foi dispersando pólos de inquietação. Os cafés eram centros de estudo, mas igualmente focos de rebelião, onde se discutia e se organizava a revolta.

 Tínhamos assim uma fauna variada, de extractos sociais diferenciados, profissionalmente irreverente e moderna, maioritariamente jovem. Entrando no café numa noite de inverno ou atravessando a esplanada numa solarenga tarde de verão, eles estavam lá, em pequenos grupos que se distinguiam pelos interesses profissionais ou pelos escalão etários, mas que por vezes se interpenetravam e fundiam em grandes grupos de amena cavaqueira.

Em Novembro de 1993, para uma revista então publicada pela livraria Barata, escrevi um texto que não resisto a recuperar. Dizia assim:

O café, enquanto local, e não só chávena, e não só bebida, refere duas realidades, ambas de agradável evocação: a bica, que se toma, e a tertúlia de amigos com quem se fala, enquanto se bebe a primeira.

 Muitos escritores têm relembrado, em saborosos textos, tertúlias célebres ao longo das décadas. Não vem ao caso historiar, mas Lisboa esteve bem provida destes locais de referência obrigatória, e não há certamente quem ignore o papel do Martinho da Arcada, da Brasileira do Chiado, do Nicola, do Café Gelo, do Monte Carlo, do Ribadouro, de tantos e tantos outros. Escritores e pintores deixaram marca num local, actores e encenadores eram habituais noutros, os cinéfilos reuniam-se sobretudo no antigo VaVá,  mesas pegadas com cançonetistas e baladistas dos idos de 60, e, antes do 25 de Abril, políticos e “gente do reviralho”, como então eram chamados os opositores ao regime, apareciam um pouco por todo o lado, acumulando funções na maioria dos casos.

 Os cafés eram locais de encontro, logo depois do almoço, e antes de se entrar no trabalho, ou a seguir ao jantar, prolongando-se então a cavaqueira pela noite dentro, até que as portas do café fechassem, e muitas vezes até para lá do seu encerramento. Nunca antes das duas ou três da matina. Muitos artigos se escreveram, muitos romances e poemas se pensaram, muitos espectáculos se montaram, muitos filmes se idealizaram, muitos quadros adquiriram ali cores e formas, muitos governos caíram e muitos outros se formaram à mesa de um café de Lisboa, do Porto, de qualquer cidade do interior de Portugal.

Não havia ainda televisão em doses industriais, para agarrar audiências pelos processos mais singulares; não havia internet, chats, blogues ou Facebook; não havia ainda Betas, VHS ou DVDs para se verem os filmes em casa; não havia concertos rocks todos os dias, nem espectáculos a toda a hora; não havia as drogas pesadas a influir negativamente nos horários dos donos dos cafés, que se querem ver livres de tão ingratos clientes, e fecham muito mais cedo; não havia a ameaça da violência urbana que apesar de tudo pesa sobre o comportamento de muita gente que prefere a segurança do lar à incerteza das ruas; nem havia, sobretudo, estes mercantis balcões de agora, onde as pessoas tomam apressadamente café, enquanto outras comem sofregamente uma sopa e pastelinhos de bacalhau, bifanas ou mesmo “pratinhos” de feijoada à transmontana, antes de regressarem ao seu balcão no centro comercial ou à secretária no escritório.

 Dos meus tempos de Universidade, relembro cafés inesquecíveis. Desde logo, o bar da Faculdade de Letras, onde se estudava a vida, quando se faltava às aulas, para se discutir um filme, uma peça de teatro ou um livro, onde se tentava mudar o mundo à medida dos nossos sonhos, ou simplesmente se namorava uma colega, quando o tempo não estava de molde a poder-se sair com ela até ao estimulante verde do discreto estádio universitário.

 Depois, à tarde e à noite, estudavam-se as matérias, em mesas de outros cafés, por apontamentos emprestados por quem assistira ao verbo do Professor. Por mim, que morava então em casa de meus pais, na Av. EUA, os mais utilizados eram o Nova Iorque, hoje transformado em banco, e a Grãfina. Mas muitas noites as passava também entre o Monte Carlo e o Monumental, espreitando actores e actrizes com quem se procurava meter conversa, ou sendo lentamente perfilhado por tertúlias de escritores, jornalistas, pintores e excêntricos avulso.

 Pouco a pouco, fui subindo avenida acima, até ao VáVá, que então tinha bilhares e cave, e não era ainda metade banco e metade pastelaria. Ali se reunia o grupo de cinéfilos, que observava de longe, e o dos cantores, que ouvia na rádio e muito pouco na TV estatal. Com breves incursões pela Suprema, pela Sul-América e pelo Luanda, adoptei o Vává como segunda casa, ali fiz amizades e vi partir amigos, ali conheci amores e desamores, ali escrevi e li, ali pensei guiões e filmes, dali parti com equipas de filmagem para a serra da Estrela, para Sintra, para o Alentejo, ali filmei mesmo uma sequência de um deles, ali vi rodar alguns outros, ali me despedi do 24 e ali saudei o 25, há quem diga que ele é a minha sala de jantar (quanto muito seria a de almoçar), e um prolongamento do meu escritório.

 O Vává foi mudando com os anos, deixando sempre saudades do velho Vává, de maples de cabedal castanho encostados às paredes, de luz difusa e discreta, de acolhedor conforto. Ali conheci o Manuel Guimarães, que seria meu padrinho de casamento e padrinho cinematográfico, cedendo-me umas bobines de película virgem do seu derradeiro “Cântico Final” para eu realizar uma das minhas primeiras curtas-metragens; ali conheci melhor o Manuel de Azevedo, o Villas-Boas, o Rafael, o Pinto Bandeira, o Manuel Costa e Silva, o Sam, o Pedro Bandeira Freire, o João Maria Tudela, o Fernando Tordo, o Paulo de Carvalho, o Carlos Mendes, o Fernando Silva, o Mário Damas Nunes, a Acácia Thiele; ali continuo a encontrar o Manel, o Fanan, o Vasco, o Mário, o Rangel, a Lena, o Carlos, e tantos outros, alguns deles agora já acompanhados das respectivas e respectivos, com a prole a gatinhar por entre mesas e cadeiras, ganhando já, se calhar, o mesmo “vício” de ali se encontrarem no futuro; por ali passam também personagens bisonhas de tristes recordações, ali ficam suspensas memórias efémeras ou persistentes, ali se discute o presente do cinema, do xadrez, da televisão e da canção portugueses, ali se debate o futuro da TAP, ali se comentam, à segunda-feira, os “roubos” dos árbitros, invariavelmente a prejudicarem o Sporting e a beneficiarem quem se sabe, por lá passava ao fim da tarde o Frederico, na volta do colégio, para a Cola e o bolo da praxe, ali descia e desço com a Eduarda para tomar o café, antes de ir para o cinema ou de regressar a casa, para um serão televisivo.

 Os cafés de Lisboa tendem a desaparecer, e os que restam são já sombras de um passado que procuramos apesar de tudo manter vivo, contra a arremetida das leis inexoráveis do comércio, da cobiça dos bancos, do poder da televisão, da proliferação de bares e discotecas. São, aliás, os bares e as discotecas que, de certa forma, vieram a ocupar o lugar desempenhado pelos cafés, reunindo tertúlias de amigos, agora ao som da música de momento. Até esta transferência é significativa da mudança dos tempos. Em lugar do café, bebe-se whisky ou vodka; em vez do espreguiçar do pensamento em redor da bica bem quente, gritam-se frases rápidas por entre dois compassos mais trepidantes. Nem melhor, nem pior. “Tudo é feito de mudança”, como dizia o poeta. “A nostalgia não é deste mundo”, como explicava Signoret. E as bicas bem quentes continuam a incendiar a imaginação dos poetas. Que nunca dispensaram outros “acompanhamentos”, a começar pelo absinto.

 A última grande transformação do Vavá data de 2017, quando a empresa Petrónio e Gonzaga, Lda foi comprada aos anteriores proprietários pelos sócios Pedro Ferreira e João Simões. O café restaurante sofreu uma profunda remodelação, mantendo e reabilitando o espólio artístico (as obras de Menez foram todas restauradas por especialistas), tarefa levada a cabo por familiares dos gerentes, a designer Mafalda Ferreira e o arquitecto paisagista Filipe Pedro. A inauguração aconteceu a 21 de Julho de 2017 e, não muito depois, a casa foi considerada “Loja com História” pela Câmara Municipal de Lisboa.

Muitos se perguntam por quê a designação Vavá?

 Estranha homenagem a um jogador brasileiro que aparece a dar nome a um café restaurante no cruzamento da av. de Roma com a dos EUA, em Lisboa. “Vavá” era mesmo o nome por que era conhecido Edvaldo Izídio (Recife, 12 de Novembro de 1934 – Rio de Janeiro, 19 de Janeiro de 2002), jogador brasileiro de futebol, bi-campeão mundial nas copas de 1958 e 1962, conhecido também por “peito de aço”. Nascido no Recife, Pernambuco, foi como avançado da selecção brasileira bicampeão mundial nas campanhas da Suécia (1958) e do Chile (1962). Iniciou a sua carreira no Sport de Recife, transferiu-se depois para o Rio de Janeiro (1952), para jogar no Vasco, passou pelo Atlético de Madrid, Palmeiras, América do México, San Diego, dos EUA, e Portuguesa do Rio. Conquistou dois campeonatos cariocas pelo Vasco da Gama e um paulista, pelo Palmeiras, além das duas Copas do Mundo pela selecção.

 Era visto como o clássico “matador” de grande área: oportuno, sem muita técnica, mas dono de muita garra e inteligência táctica, além de bom a jogar de cabeça. O seu vigor físico valeu-lhe o apelido de “Peito de Aço”. Marcou nove golos pelo Brasil em Copas do Mundo, e em 22 jogos pela selecção brasileira, contabilizou 14 golos. Foi auxiliar técnico de Telê Santana (1982) na selecção brasileira que disputou a Copa da Espanha. Morreu aos 67 anos, na Clínica São Victor, na Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro, após internado por três dias com insuficiência cardíaca, e enterrado no Cemitério do Catumbi.

 Porque se chama Vavá o café restaurante a que estamos a dedicar este texto, eis um enigma que não conseguimos decifrar. Numa época em que no Brasil havia Pelé e Garrincha, porquê optar por Vavá? Um mistério a que pouca gente dá qualquer atenção. Curiosamente, os nomes fixam-se e raras vezes se procura encontrar uma razão para a sua escolha. Vavá é hoje em dia algo abstracto que, neste caso, designa um café, nada mais. Uma sonoridade apenas.

 Mas esta sonoridade faz retinir recordações e memórias de outros tempos. No final da década de 1950 e na de 60 do século passado o Vavá foi local de encontro e de tertúlias diárias de uma certa inteligência nacional, urbana, resistente ao Estado Novo, ponto de encontro de diversos grupos sociais. Um deles, os jovens do que viria a ser chamado o novo cinema português, onde pontificaram os nomes de Fernando Lopes, Paulo Rocha, António Pedro Vasconcelos, Alberto Seixas Santos, António da Cunha Telles, João César Monteiro, Manuel Costa e Silva, entre outros que habitavam perto e ali se reuniam diariamente, à noite, para a bica da praxe e a conversa habitual. Foi aqui que se convencionou ter nascido o novo cinema português, que um filme como “Verdes Anos”, de Paulo Rocha, confirma (grande parte filmado no edifício do próprio Vavá onde então morava o seu realizador).

 Mas o café não era apenas refúgio de jovens cineastas, mas também de um ou outro veterano, como era o caso de Manuel Guimarães, o mais conhecido realizador português a testemunhar a influência do neorrealismo italiano no nosso país, com títulos como “Saltimbancos” ou “Nazaré”. Não confraternizavam todos na mesma mesa, o conflito geracional existia. Guimarães era frequentador de uma outra tertúlia, onde surgiam vários opositores ao regime, “malta do reviralho”, como então eram chamados, como Aquilino Ribeiro Machado, engenheiro, filho do escritor Aquilino Ribeiro e futuro Presidente da Câmara de Lisboa, entre 1977 e 1979, Dias Amado, professor da Faculdade Ciências, Manuel de Azevedo, jornalista do “Diário de Lisboa”, Aventino Teixeira, coronel, um dos capitães de Abril, Pinto Bandeira, o artista plástico Sam, Rafael, proprietário de uma agência de publicidade, entre alguns mais. Senhoras de certa idade eram raras. Uma delas era a mulher de Manuel Guimarães, a Dª Clarice, que acompanhava sempre o marido.»

Legenda:

Foto 1 – Fotografia de Aida Santos

Foto 2 – Fotografuia do jornal I

Foto 3 - Site de Lojas Com História

Foto 4 – Site de Lojas Com História

Foto 5 – Site de Lisboa ComVida

2 comentários:

Seve disse...

Que belo texto!
Estão aqui 50 anos de história de uma geração.
Isto é uma pérola- uma lição de história como há muito não lia.
É de reler e reler.
Obrigado Sammy.

Sammy, o paquete disse...

A palavra pérola está excelentemente aplicada, caro Seve.