Quem
me conhece sabe de uma velha frase: «Não sou alentejano mas gostava de ser.»
No
seu Diário Inédito, Vergílio Ferreira
conta uma história sobre alentejanos.
Ele
escreveu história e não anedota, note-se.
«Évora,
10 de Abril de 1949
O
meu amigo A.M. contou-me esta história:
Um
dia, num passeio pelo campo, deserto, encontrou ele um homem sozinho, sentado
numa pedra, imóvel, como abandonado ao correr do tempo.
-
Ora boa tarde. Então que faz vossemecê por aqui?
-
Que faço… Vinha com um camarada que foi aí adiante. Disse-me que demorava pouco
e já aqui estou à espera há três dias.
O
Alentejo é assim.»
Este
Diário Inédito corresponde a uma
diarística que Vergílio Ferreira escreveu entre 1944 e 1949, e que regista a
evolução do autor como futuro escritor (estes textos quase diários começam com
a idade de 26 anos e terminam aos 32 anos, a 20 de Janeiro de 1949 revela que
concluiu o romance Mudança «não sei bem se o tema interessará mas a mim
diz-me muito, talvez por ter ainda à sua roda o calor com que o escrevi») e
que se podem considerar a base dos futuros Conta-Corrente.
São
os tempos em que anda à volta de filósofos como, entre outros) Hegel, Kirkegaard,
Gabriel Marcel, Julien Benda mas principalmente Jean-Paul Sartre.
Entrada
diarística de 21 de Março de 1944:
«Curiosa é a ignorância repousada dos nossos modernistas. Eles clamam por Sartre.Mas saberão que Sartre prega a verdade feita pelas mãos de cada um? Ou já sabem que o que vale em Sartre não e o que ele prega mas o que desgraçadamente realiza? Em todo o caso, vou rachar estes tipos qualquer dia, com um artigo.»
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