Era um espaço construído de olhares e de
ruídos.
Antigo.
Delimitado pelo casulo da menina da tabacaria, com postigo para a rua, e o
guarda-vento que lhe defendia a privacidade de gueto masculino.
As mesas dispunha-se ao longo das paredes.
Sublinhadas por fotografias desactualizadas, em conflito com a modernidade dos
autocolantes.
Mesas privadas, e de vítima.
Infinitamente repetidas nos espelhos, que as devolviam aos interessados.
Tinha residentes:
o cauteleiro, que apregoava a felicidade avulsa, e um engraxador, de
fato-macaco e sapatos cansados de mostrarem o brilho disponível dos seus
gestos.
Sempre que podia, fazia-se ouvir com uma tira de pano de bilhar.
Afirmava-se, interrompendo as conversas dos senhores:
o médico, o advogado, o gerente do banco, o rico e o informador.
Também havia um artista.
Cafés sombrios e delatores, da Beira.
Ou catedrais de lavradores, como os de Évora, em dia de são porco.
Cresci neles, com uma onça de tabaco e um caderno, autorizado por um café de
saco.
Nem todos foram pervertidos em bancos, ou travestidos em lugares de culto.
Mas entre as saudades do cheiro e do espaço, pondero a maldade e a arrogância
da frequência.
Jorge Fallorca
sábado, 26 de fevereiro de 2022
CAFÉ
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