Para Quê Tudo Isto?
Biografia
de Manuel António Pina
Álvaro
Magalhães
Capa:
Rui Rodrigues
Contrponto Editores, Lisboa, Setembro de 2021
A infância é uma
estação poética por excelência, mesmo porque recria esse melancólico original
que é a infância do mundo: o início do espaço e do tempo. Na infância, não
estamos ainda separados do mundo, somos parte dele. Porém, estamos então
demasiados próximos dessa infância, demasiado imbuídos dela para a reconhecer
como tal. Sim, a infância não se vê da infância. Eugénio de Andrade dizia que
ela «nos aquece à medida que se distancia», que é um modo elegante de dizer que
só a temos quando a perdemos. «E apenas por a termos perdido a amamos tanto»,
(Ruy Belo). Sim, só depois de se perder esse estado de graça, essa simples
felicidade, se toma consciência disso, e se reconhece o «pecado da
infelicidade». Portanto, só possuímos a infância quando ela já é apenas distância,
ou seja, uma construção da memória. E a memória partilha da mesma condição
ilusória da literatura e do ser. Ela mente, frequentemente («nós é que
construímos o nosso próprio passado», dizia Pina, mas é tudo o que temos para
nos aguentarmos à tona nas águas turbulentas da existência.)
2 comentários:
Gosto muito deste escritor, apesar de só ter lido um livro dele (Crónica e Saudade da Literatura -creio que era este o título-).
Parecia-me uma excelente pessoa, daquelas que gostaríamos de ter como amigo.
E esta biografia parece-me muito interessante de uma pessoa algo solitária, até misteriosa mas sedutora e atraente realmente uma pessoa certamente muito interessante.
SEm qualquer ponta de dúvida: um homem notável.
Enviar um comentário