sábado, 16 de fevereiro de 2013
SARAMAGUEANDO
Rosa Parks, a mulher que esteve na origem do fim das leis de segregação racial nos Estados Unidos, vai ser a partir de 27 de fevereiro a primeira afro-americana a ter uma estátua no congresso norte-americano.
Os líderes dos dois partidos do Congresso anunciaram que a estátua vai ser inaugurada no final do mês, numa cerimónia que vai decorrer na Salão Nacional das Estátuas do Capitólio.
Um texto de José Saramago sobre Rosa Parks, publicado no 1º volume de O Caderno:
Rosa Parks, não Rosa Banks. Um lamentável desmaio de memória, que não terá sido o primeiro e certamente não vai ser o último, fez-me incorrer num dos piores deslizes que se podem cometer no sempre complexo sistema das relações entre pessoas: dar a alguém um nome que não é o seu. Salvo ao paciente leitor destas despretensiosas linhas, não tenho a quem pedir que me desculpem, mas já basta, para ver-me punido do desacerto, o sentimento de intensa vergonha que de mim se apossou quando, logo depois, me apercebi da gravidade do equívoco. Ainda pensei em deixar correr, mas afastei a tentação, e aqui estou para confessar o erro e prometer que doravante terei o cuidado de verificar tudo, até aquilo de que julgue ter a certeza.Há males que vêm por bem, diz a sabedoria popular, e talvez seja certo. Tenho assim a oportunidade para voltar a Rosa Parks, aquela costureira de 42 anos que, viajando num autocarro em Montgomery, no estado de Alabama, no dia 1 de Dezembro de 1955, se recusou a ceder o seu lugar a uma pessoa de raça branca, como o condutor lhe havia ordenado. Este delito levou-a à prisão sob a acusação de ter perturbado a ordem pública. Há que esclarecer que Rosa Parks ia sentada na parte destinada aos negros, mas, como a secção dos brancos estava completamente ocupada, a pessoa de raça branca quis o seu assento.Em resposta ao encarceramento de Rosa Parks, um pastor baptista relativamente desconhecido nesse tempo, Martin Luther King, dirigiu os protestos contra os autocarros de Montgomery, o que obrigou a autoridade do transporte público a acabar com a prática da segregação racial naqueles veículos. Foi o sinal para desencadear outras manifestações contra a segregação. Em 1956 o caso de Parks chegou finalmente ao Tribunal Supremo dos Estados Unidos, que declarou que a segregação nos transportes era anti-constitucional. Rosa Parks, que já desde 1950 se havia unido à Associação Nacional para o Avanço do Povo de Cor (National Association for the Advancement of Colored People), viu-se convertida em ícone do movimento de direitos civis, para o qual trabalhou durante toda a sua vida. Morreu em 2005. Sem ela, talvez Barack Obama não fosse hoje o presidente dos Estados Unidos.
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