quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

OLHAR AS CAPAS


Rubem Fonseca

Bufo & Spallanzani
Capa: Henrique Cayatte
Sextante Editora, Porto, Fevereiro de 2011


“Você gosta de Chagall?”, perguntei na primeira oportunidade. Ela respondeu que sim, “Essa gente toda voando”, eu disse e ela respondeu que Chagall era um artista que acreditava acima de tudo no amor. Na mão esquerda dela, no dedo anelar, havia um anel de brilhantes. Devia ter uns trinta anos de idade e uns cinco de casada, que é quando as mulheres começam a perceber que o casamento é uma coisa opressiva, doentia mesmo, iníqua e estiolante; além das privações sexuais que passam a sofrer, pois os maridos já se cansaram delas. Uma mulher dessas é uma presa fácil, o sonho romântico acabou, restou a desilusão, o tédio, a perturbação moral, a vulnerabilidade. Então aparece um libertino como eu e seduz a pobre mulher. Ali estava uma mulher que acreditava no amor. “Que nul ne meure qu’il n’ait aimé” (ver Saint-John Perse), eu disse. O francês pode ser uma linha morta, mas é linda e funciona muito bem com as burguesas. “Infelizmente o mundo não é como os poetas querem”, disse ela. Convidei-a para jantar, ela hesitou e acabou aceitando almoçar comigo. Era a primeira vez que ia a um restaurante com um homem que não fosse o marido.

Sem comentários: