quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013
PORQUE HOJE È DIA DE SÃO VALENTIM!
Momento de alívio foi quando Dona Verónica tratou Gustavo por primo e quis saber da namorada dele, «Ficou em casa a estudar», declarou o inocente; podia ter dito logo. Os outros foram saindo e eu fui ficando. À espera não sabia de quê, excepto de evitar que tudo continuasse na mesma, afastado de Erika e em perigo de que outro lhe lançasse a unha. Providencial, o doutor disse que não era má ideia um conhaque Napoleão. Recostámo-nos na saleta. Daí a nada, eramos só eu, ele e o Napoleão. À segunda dose deu-se o fenómeno da metamorfose da minha timidez em coragem. O tudo ou nada mas sem perder a face e a cortesia.
- O senhor doutor autoriza-me a escrever uma carta a Erika?
Suspendeu o balão do conhaque, fitou-me, escarafunchou com um dedo no ouvido e respondeu, vago: - Ela só tem recebido cartas da Áustria.
Percebi que evitava tomar posição quando chamou por dona Verónica que veio logo. E transmitiu-lhe:
- Aqui o nosso jovem amigo pretende escrever uma carta à Erika.
- Um a carta? Nesse momento ela já se voltava para mim e pedia esclarecimentos: - Que espécie de carta? Levantei-me, puxei as mangas da camisa, apertei o nó da gravata e surpreendi-me ao ouvir a minha voz firme:
- Uma carta de amor.
Mário Zambujal em Já Não se Escrevem Cartas de Amor, A Esfera dos Livros, Lisboa Outubro de 2008.
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