sábado, 2 de fevereiro de 2013

CARTA AO PRESIDENTE


Ao Senhor Presidente
E chefe da Nação
Escrevo a presente
P'ra sua informação
Recebi um postal
Um papel militar
Com ordem p'ra marchar
P 'ra guerra colonial

Diga aos seus generais
Que eu não faço essa guerra
Porque eu não vim à terra
P'ra matar meus iguais
E assim digo ao senhor
Queira o senhor ou não
Tomei a decisão
De ser um desertor.
Desde que me conheço
Já vi meu pai morrer
Vi meus irmãos sofrer
Vi meus filhos sem berço
Minha mãe sofreu tanto
Que me deixou sozinho
Morreu devagarinho
Nas do seu pranto
Já estive na prisão
Sem razão me prenderam
Sem razão me bateram
Como se fosse um cão
Amanhã de madrugada
Pego numa sacola
e na minha viola
e meto-me à estrada...
Irei sem descansar
P'la terra lusitana
Do Minho ao Guadiana
Toda a gente avisar:
À guerra dizei «Não!»
A gente negra sofre
E como nós é pobre
Somos todos irmãos
E se quer continuar
A explorar essa gente
Vá o Senhor Presidente
Tomar o meu lugar...
Se me mandar buscar
Previna a sua guarda
Que eu tenho uma espingarda
E que eu sei atirar.
Carta ao Presidente é uma adaptação de José Mário Branco do poema Le Déserteur de Boris Vian.

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