No
dia 11 de Setembro de 2001, em Nova Iorque, um criminoso atentado terrorista,
contra as duas torres do World Trade Center, matava mais de três mil cidadãos
de diversas nacionalidades, dando origem a uma escalada de destruição,
violência e que veio a culminar, a mando de George Bush, na invasão do Iraque, que, ainda hoje, se fim à vista se reflecte
em toda o Médio Oriente, com dramáticos cenários no Iraque e na Síria.
Nesse
11 de Setembro de 1973, a CIA ajudou monetariamente e militarmente o num General Augusto Pinochet, num golpe de
estado que pôs fim ao governo democraticamente
legitimo de Salvador Allende, provocando vários milhares de vítimas, 30
mil são os números calculados, e acrescente-se as prisões e o exílio de
duzentos mil chilenos, que deu origem a uma feroz ditadura que durou 17 anos.
Para
assinalar o 1º aniversário do atentado de Nova Iorque, o produtor francês Alain
Brigand, pediu a 11 realizadores, de vários países, para fazerem uma
curta-metragem de 11 minutos, nove segundos e um frame, sobre a destruição das
torres.
O inglês Ken Roach foi um dos realizadores
escolhidos.
Dando a volta ao texto, põe Pablo, um exilado
chileno, a ler uma carta de solidariedade ao povo norte-americano, enquanto
passam imagens da eleição e do assassínio de Salvador Allende:
«Queridas
mães, pais e amados daqueles que morreram no dia 11 de Setembro em Nova Iorque:
Sou
chileno e vivo em Londres. Quero dizer-vos que talvez tenhamos algo em comum.
Os vossos entes queridos foram assassinados como os meus e na mesma data: 11 de
Setembro. Terça-feira.
Em 1970 houve eleições. Eu tinha 18 anos e votei pela primeira vez. Tínhamos um sonho lindo, o de construir uma sociedade em que o nosso povo partilhasse os frutos do seu trabalho, a riqueza do país. Por isso em Setembro de 1970 todos votámos e vencemos. Havia leite e educação para as crianças. Terras por cultivar foram dadas a trabalhadores sem terra. As minas de carvão e de cobre e as principais indústrias tornaram-se pertença de todos nós. Pela primeira vez na sua vida as pessoas tinham dignidade. Mas ignorávamos como tal era perigoso. O vosso Secretário de Estado, Henry Kissinger anunciou: “Não sei porque havemos de ficar a ver um país tornar-se comunista devido à irresponsabilidade do seu povo.”
A
nossa decisão democrática e os nossos votos eram irrelevantes. O mercado e os
lucros são mais importantes. A partir desse momento a nossa dor e a vossa dor
foi legalizada. O vosso Presidente Nixon disse que poria a nossa economia a
gritar. Ele mandou a CIA tomar parte activa num levantamento militar, um golpe
de estado. Dez milhões de dólares e mais, se necessário, foram disponibilizados
para derrubar o nosso Presidente Salvador Allende.
Amigos,
os vossos líderes pretenderam destruir-nos. Desencadearam uma guerra no sector
dos transportes que quase paralisava a nossa economia. Eles pararam todo o
comércio entre nós o que provocou o caos. Estavam feitos com os chilenos que
não aceitavam a nossa vitória. Os vossos dólares apoiaram neo-fascistas que
geraram violência nas ruas e puseram bombas em fábricas e centrais eléctricas.
Por estranho que pareça, não surtiu efeito. Nas eleições municipais o nosso
apoio aumentou. E o que fizeram os Estados Unidos da América?
No
dia 11 de Setembro, inimigos da liberdade cometeram um acto de guerra contra o
nosso país. Ao raiar da aurora tropas e tanques avançaram sobre o nosso palácio
presidencial. Allende e os seus ministros e conselheiros estavam lá dentro.
Allende não fugiu quando o Palácio Moneda foi atingido.
Ele
foi assassinado. Assassinaram-no. Numa terça-feira. A nossa terça-feira. Dia 11
de Setembro de 1973. Um dia que destruiu a nossa vida para sempre.
Deram-me
um tiro no joelho e fizeram encostar-me a cara ao pó da estrada. Bateram-me
tanto que por várias vezes perdi os sentidos. Um dia na prisão cheguei-me à
grade e vi o German Castro a ser arrastado pelos braços. Ele não conseguia
andar, sangrava dos ouvidos. Eles partiram-lhe os ossos e depois
assassinaram-no. Soubemos dos campos de tortura dirigidos por oficiais
treinados nas escolas americanas. Soubemos que havia gente atirada de
helicópteros, gente torturada em frente aos filhos e conjugues . Sabem o que
eles faziam? Punham-lhes electricidade nos órgãos genitais. Punham ratazanas
nas vaginas das mulheres e treinavam cães para as violar. E depois soubemos da
“Caravana da Morte” do general que ia de terra em terra a fazer execuções
aleatórias. 30 mil pessoas foram assassinadas. 30 mil. O vosso embaixador no
Chile queixou-se das torturas e Kissinger disse: “Ele que pare com os discursos
de ciência política”.
O
general Pinochet, organizador do golpe sorriu e aceitou os parabéns do
Secretário de Estado. E os dólares recomeçaram a entrar no Chile. Chamaram-me
terrorista e condenaram-me a prisão perpétua sem direito a julgamento ou
defesa. Fui libertado cinco anos depois mas tive de deixar o país para não pôr
em perigo os meus amigos. Não posso regressar ao Chile embora não pense noutra
coisa. O Chile é a minha pátria mas o que seria dos meus filhos? Eles nasceram
em Londres. Não os posso condenar ao exílio como eu. Não posso fazê-lo agora
mas anseio por voltar.
Santo
Agostinho disse: “A esperança tem duas belas filhas – a Raiva e a Coragem.
Raiva pelo estado das coisas. Coragem para as mudar.”
Mães,
pais, amados dos que morreram em Nova Iorque:
Em
breve será o 29º aniversário da nossa terça-feira, dia 11 de Setembro, e o 1º aniversário
da vossa. Nós recordar-vos-emos. Espero que vocês se recordem de nós.»
Pablo
2 comentários:
Pablo,nem palavras consigo ter para exprimir a minha emoção e solidariedade.
São palavras para nunca serem esquecidas.
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