10 de Junho de 1992
O
que foi feito dos meus amigos e das coisas belas e desmesuradas por que todos
nós perdemos e ganhámos a juventude? Olho em volta e resigno-me: os meus amigos
cansaram-se jazem agora em empregos rotineiros à espera da trombose ou do
enfarte. Alguns passaram-se com armas e bagagens (e, naturalmente, proveito)
para o lado do inimigo. Os melhores (mas que sei eu?) engordaram – para dizer a
verdade, todos engordámos… - e tornaram-se cépticos e amargos, carregando a nossa
memória comum como um pecado envergonhado. Muitos morreram em guerras sem
sentido, ou tão-só de tédio, de longo e insuportável tédio. Outros partiram
para improváveis distantes lugares; um enlouqueceu (e esse foi, se calhar, o
que , imóvel e cegamente, partiu opara mais longe.
Manuel
António Pina em Crónica, Saudade da Literatura
1 comentário:
Eis um livro que terei de reler!
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