Jean-Paul Belmondo já não anda por aí.
Tinha 88 anos e junta-se ao corrupio de gente de que tanto gosto, e vai partindo.
Qu'est-ce
que je vais faire? Je pas quoi faire...
Os filmes envelhecem? Os livros envelhecem? As canções envelhecem? Os heróis
envelhecem?
Manuel António Pina diz-nos que a
juventude é tempo, não é virtude e que ser jovem, como ser velho. é uma penosa
tarefa, tantas vezes uma perigosíssima aventura.
É o que regista em Crónica, Saudade da
Literatura:
«Vejo alguns filmes que encheram de
confusão e emoção a minha juventude e os seus precipícios formais têm agora a
profundidade da piscina de Charlot nos Tempos Modernos. De Pierrot le Fou, por
exemplo, pouco resta: uma canção («Jamais j ene t’ai dit que je t’aimerais
toujours, oh mon amour!»); Jeam-Paul Belmondo conversando com Samuel Fuller
sobre cinema; Anna Karina dançando e cantando: «Ma ligne de chance, ma ligne de
chance, dis-mois, cheri, qu’est-ce que t’en penses…». Vi-o de novo um dia
destes e antes não o tivesse feito! As filhas comentaram com sarcamo: «É afinal
este o filme de que tanto falas…?; e eu: «Não, não é este, é o que eu vi quando
tinha 20 anos…»
Também tempo para ir buscar o que por aqui ficou escrito (12 de Novembro de 2012) desse tal filme que nunca perceberei, mas de que tanto gosto:
É comum dizer-se que, Pedro, o
Louco é um film noir, mas a cores.
Na mesma categoria, citam o Chinatown do
Poolasnki.
Dando de barato que Godard não é santo
da minha devoção, direi, no entanto que gosto do filme, acima de tudo do seu
final, mesmo que não o entenda e duvido que alguma vez o consiga
entender. Mas isso é coisa que muita me anima.
Pierrot, ou Ferdinand (Jean Paul
Belmondo) pinta a cara com tinta azul e envolve a cabeça com fitas de dinamite.
Antes Marianne (Anna Karina) tinha-lhe dito que o abandonava porque
mais nada tinham a dizer um ao outro.
Marianne é ferida de morte. Pierrot, ou
Ferdinand, deita-a numa cama e ela diz peço-te perdão, chamo-me
Ferdinand diz ele. É muito tarde, diz ela, antes de a
cabeça lhe cair para o lado.
Ferdinand, ou Pierrot, envolvido em
dinamite, senta-se frente ao mar.
Pega em fósforos e lança fogo ao
rastilho, enquanto vai dizendo: porquê?
Apercebendo-se, então, que o rastilho já
arde diz: afinal sou um parvo, merda, bela morte para...
Dá-se a explosão e a câmara desloca-se
para a direita e fixa-se no mar, num
horizonte de pôr-de-sol.
É o que durante breves minutos vemos até
que em off a voz de Marianne sussurra: ele
reencontrou a eternidade.
Pierrot, ou Ferdinand: o quê?
Marianne: É o mar, vê. Com o
sol.
Talvez a eternidade, a dor de
existir, ma ligne de chance, ta ligne de hanches?
É escusado perguntar ao Godard o que
pretendeu dizer.
Ele nunca explica nada.
Diz sempre que pode ser isso e o
contrário.
Improviso à medida que vou filmando.
Mário Dionísio, em Fevereiro
de 1967, deixou escrito que Pedro, o Louco lhe
causou uma sensação excepcional, não hesitou em
afirmar que era um filme perturbador e concluía: mostra,
de uma forma muito bela, o homem rebelando-se contra o seu próprio desmembramento,
mas estrebuchando apenas.O que ele diz é que não há saída possível. Mas que a
saída, se acaso existe, não pode ser aquela.
O dilema de Pierrot, ou
Ferdinand, manifesta-se num ódio pelo mundo em que vive, mas ignora
as razões do seu ódio. O itinerário de um homem em busca de si
próprio. Antes já Pierrot, ou Ferdinand, dissera que somos feitos de
sonhos e os sonhos são feitos de nós.
Um filme de paixão, de uma beleza
admirável
Existir dói?
Agora, se tiverem tempo, e eu tenho,
passem, hoje, pela Cinemateca.
Já sabem que, pode-se ter o DVD na
estante, mas nada há como uma salinha escura para ver filmes.
PIERROT LE FOU NA CINEMATECA NACIONAL
Pedro, o Louco
de Jean-Luc Godard
com Jean-Paul Belmondo, Anna Karina,
Samuel Fuller
França, 1965 - 109 min
legendado em português
Dia 12 de Novembro, 15,30 Horas, Sala
Dr. Félix Ribeiro
Emblema dos anos sessenta, emblema do cinema moderno, no sentido histórico do termo, PIERROT LE FOU adquiriu há muito tempo o estatuto de clássico. O mais famoso filme de Godard, de “uma beleza sublime” no dizer de Louis Aragon, continua a entusiasmar as novas gerações que o descobrem pela primeira vez. Um homem e uma mulher, Pierrot e Marianne, deixam subitamente Paris e saem pelas estradas de França, “vivendo perigosamente até ao fim”. Amam-se e matam(-se), mas principalmente recusam a civilização tal como o pequeno-burguês a concebe, vivendo o instante e o dia a dia. A fotografia a cores de Raoul Coutard é um verdadeiro compêndio de muitas tendências estéticas dos anos sessenta como o é o som recriado por Antoine Bonfanti.
1 comentário:
Ó Sammy o cinema francês morreu!
A literatura francesa morreu!
A canção francesa morreu!
A língua francesa morreu!
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