«Do
ponto de vista de carácter o líder da UGT demonstra ser um homem recto: Carlos
Silva, ao contrário de muitos aduladores de Ricardo Salgado - o homem que se
afundou com o BES - repete publicamente em tribunal e à comunicação social
palavras elogiosas ao banqueiro, que está presentemente a ser julgado por três
crimes de abuso de confiança na utilização de 10 milhões de euros.
Durante
décadas Ricardo Salgado foi galanteado pelos maiores empresários de Portugal.
Desde 1991 até 2013 ele foi publicamente homenageado por quase todos os líderes
de governos, pelos Presidentes da República, pelos ministros das Finanças, da
Economia e pelos governadores do Banco de Portugal. Foi reverenciado por
inúmeros diretores de jornais e tvs, colunistas e jornalistas de economia.
Foram disputados o seu favorecimento e a sua "cunha" pelos mais
diversos atores da vida pública portuguesa.
Assim
que caiu em desgraça, não só todos abandonaram Ricardo Salgado como, pior,
muitos desses antigos iconoclastas da família Espírito Santo passaram a liderar
a multidão de invetivadores do líder da família.
Carlos
Silva não é desses e, à saída do tribunal, disse isto aos jornalistas sobre o
antigo patrão: "Elogiei e continuarei a elogiar enquanto for vivo, não
tenho nada de me arrepender em relação ao tempo em que estive no banco e em que
acompanhei as reuniões da comissão de trabalhadores e depois no setor bancário.
Sou apenas um intérprete de uma esmagadora maioria de trabalhadores que
entendiam que se sentiam bem no banco, que eram compensados pelo esforço e que
olhavam para Ricardo Salgado com respeito e admiração".
Do
ponto de vista de carácter pessoal, repito, está aqui uma pessoa que se
recomenda. Do ponto de vista de alguém que é líder de uma central sindical, do
ponto de vista, portanto, do carácter institucional que hoje em dia Carlos
Silva incorpora na sua individualidade, tal elogio é incompreensível.
Vou
dar, apenas, três exemplos.
O
BES, então o maior banco privado português, transformado em Novo Banco numa
operação com custos para os contribuintes na ordem dos sete mil milhões de
euros (até agora...), prejudicou e prejudica milhões de trabalhadores portugueses
- muitos deles certamente filiados na UGT - que pagam mais impostos ou recebem
menos salário também por causa dos custos públicos e para a economia provocados
pelos erros (e eventuais crimes) de Ricardo Salgado.
Os
trabalhadores do BES, que Carlos Silva representou enquanto membro da comissão
de trabalhadores do banco e, depois, como sindicalista até chegar ao topo da
UGT, foram utilizados por Ricardo Salgado como instrumentos de venda de
produtos financeiros a pequenos investidores, cujas garantias e segurança de
rendibilidade não eram aquelas que o patronato mandou os seus funcionários
publicitar - e assim alguns milhares de clientes (alguns serão filiados na
UGT?...) foram enganados e perderam as suas poupanças. Muitos destes
trabalhadores do BES foram diretamente acusados pelos defraudados como autores
de supostas vigarices.
Outra
consequência da gestão de Ricardo Salgado para os trabalhadores que Carlos
Silva representou no banco ou representa na UGT foi este: no processo de
passagem do BES para o Novo Banco e na reestruturação que este entretanto
efetuou, milhares perderam o emprego.
Carlos
Silva, líder da UGT, pode elogiar Ricardo Salgado, cujos prejuízos estão a ser
pagos por milhões de trabalhadores portugueses?
Carlos
Silva, líder da UGT, pode elogiar Ricardo Salgado, que utilizou os
trabalhadores do banco como instrumentos de concretização prática de erros
clamorosos, de desonestidades agora evidentes e, até, de possíveis crimes?»
Pedro Tadeu no Diário de Notícias
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