Manteigas, 7 de Outubro de 1998.
Enquanto a Aida e o Garrudo compravam postais, eu olhava os jornais.
Um chamou-me a atenção: o “24 Horas”, jornal que nunca frequentei, tinha uma chamada na 1ª página em que revelava que para o Nobel da Literatura os "americanos apostam em Saramago.”
Comprei o jornal e o desenvolvimento da notícia, a Associated Press revelava que na bolsa das apostas para o Nobel constavam muitos nomes entre os quais o de José Saramago. A seu lado surgia o chinês Bei Dao, o sueco Tomas Transtroemer e o albanês Ismail Kadare.
De mim para mim fui dizendo que esta coisa dos prováveis vencedores é a história do costume, e não vale a pena pensar muito nisso.
De mim para mim fui dizendo que esta coisa dos prováveis vencedores é a história do costume, e não vale a pena pensar muito nisso.
No dia a seguir, a caminho de Constança, o Mário informava-nos, pelo telemóvel, que José Saramago ganhara o Prémio Nobel da Literatura.
A alegria, diga-se jubilo, foi demasiado grande para aqui caber.
Apenas que o jantar em Constança teve um sabor único, tal como o vinho tinto que à saúde do Nobel português tratámos de beber e bem. Donde se pode inferir que o melhor vinho pouco tem a ver com marcas, com isto, com aquilo, com aqueloutro, antes remete para o ambiente certo, com as pessoas certas para comemorar uma transcendência que, de modo algum, é de todos os dias.
Aquele foi mesmo o melhor vinho do mundo.
Apenas que o jantar em Constança teve um sabor único, tal como o vinho tinto que à saúde do Nobel português tratámos de beber e bem. Donde se pode inferir que o melhor vinho pouco tem a ver com marcas, com isto, com aquilo, com aqueloutro, antes remete para o ambiente certo, com as pessoas certas para comemorar uma transcendência que, de modo algum, é de todos os dias.
Aquele foi mesmo o melhor vinho do mundo.
Num artigo no “Diário de Notícias”, José Viale Moutinho escreveu:
“Obviamente, a atribuição do Prémio Nobel a José Saramago fez vir ao de cimo o azeite mais ácido de alguns indivíduos da nossa sociedade”
Passemos os olhos por algumas dessas azias:
José António Saraiva no “Expresso”:
“Saramago é demasiado seco, demasiado amargo, a sua escrita é demasiado carpinteirada para os portugueses gostarem dela.”
Sousa Lara:
“Estou de consciência tranquila e hoje voltaria a fazer o mesmo, pois não se trata de discutir a estética da sua obra, mas de defender convicções. Encaro a sua vitória com fair-play, mas não me vejo obrigado a pedir-lhe desculpa.”
Paulo Portas:
“Quando há anos se deu o problema “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” decidi não ler, porque achei que me ia incomodar.”
“Quando há anos se deu o problema “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” decidi não ler, porque achei que me ia incomodar.”
D. Duarte Pio de Bragança:
“José Saramago é um autor de leitura difícil e pesada e insulta abertamente os sentimentos cristãos. Duvido que os membros do júri tenham lido os seus livros.”
Júlio Pinto, jornalista:
“Ao colocar Saramago no “índex”, a direita portuguesa e romana mais não fez do que dar-lhe uma projecção que os seus livros, só por si, não suscitariam.”
D. António José Rafael, Bispo de Bragança:
“Comparem-no com Eça ou com Camilo e então ficam a saber que ele teve o Nobel não por escrever bem. Vejam como ele faz a pontuação. Não gosto de perder tempo a ler Saramago.”
Vasco Pulido Valente:
“O sr. Saramago ganhou o Prémio Nobel da Literatura, como dezenas de modestas figuras que nunca ninguém leu e que tiveram uma influência efémera".
Na estranja a atribuição do Nobel a José Saramago também provocou engulhos:
O “Obsservatore Romano” lembrou que Saramago é um anti-religioso histórico e um comunista de longa data. Foi um “péssimo sinal que tenham dado o Nobel a um comunista”.
O crítico literário da revista “Time” disse: “Tenho feito críticas a livros toda a minha vida e nunca ouvi falar dele.”
O escritor e historiador norte-americano Stephen Schwartz não Foi de modas e escreveu no "Wall Street Journal":
“José Saramago tem uma história de comportamento verdadeiramente sinistra ao serviço de uma agenda estalinista. Os “snobs” das academias escandinavas, seguros na sua riqueza e poder, continuam fiéis às suas fantasias esquerdistas.”
3 comentários:
Olá,
Adoro o seu blogue, não conheço outro com tanto amor por José Saramago, e que revela tantos factos esquecidos sobre ele a relação da sociedade portuguesa com ele.
O seu blogue é um extraordinário repositório de material sobre Saramago!
Seria possível indicar-me as fontes das citações de José António Saraiva, D. Duarte Pio de Bragança, Júlio Pinto, D. António José Rafael, Bispo de Bragança e Vasco Pulido Valente? Ando a escrever um estudo sobre Saramago, e gostaria de incluir algumas; acho muito interessante compreender como Saramago era visto pelos outros.
Sobretudo acho deprimente o atestado de incompetência que estes detractores passam aos leitores portugueses; quem é José António Saraiva para saber do que "gostam" os leitores? É claro que quem não gosta de prosa "carpinteirada" é ele, mas depois generaliza como se todos tivéssemos as limitações dele.
Caro Luiz-Santos Rosa:
Antes de tudo o mais, o meu pedido de desculpa por só agora ter visto o seu comentário.
Obrigado pelas palavras de elogio.
Exageradíssimas, note-se.
Sou um mero curioso que se entretém com estas coisas.
Poderia dar para pior!
Indo ao que importa:
Terei que procurar melhor mas, das citações de Vasco Pulido Valente («Público») e António José Saraiva, («Expresso»), talvez tenham sido recolhidas em segunda mão porque não encontro os recortes.
A afirmação de D. Duarte Pio está publicada no «Diário de Notícias» de 9 de Outubro de 1998.
A afirmação de D. António José Rafael pertence a um artigo de Francisco Mangas publicado no «Diário de Notícias» de 3 de Novembro de 1998.
A afirmação de Júlio Pinto pertence a um artigo (lamentável, por sinal) do próprio Júlio Pinto publicado na revista «Tango».
Se necessitar de algo mais não hesite. Estarei atento.
Um abraço.
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