O meu pai gostava mais de “blues” do que de “jazz”.
Não tinha grandes leituras sobre a matéria e a afirmação provinha de mero gosto pessoal.
Tinha simpatia por Billie Holiday e uma predilecção muito especial por “Strange Fruit”,
canção que Billie Holiday gravou em 20 de Abril de 1939 e que se transformou em porta-estandarte da luta dos Direitos Civis dos negros norte-americanos. Em 1999, a revista “Time” descreveu-a como sendo a “canção do século” e foi incluída na lista de “Canções do Século” pelo organismo que tutela a indústria discográfica dos Estados Unidos.
Na autobiografia que ditou a William F. Dufty (1) , Billie Holiday conta a história de “Strange Fruit”:
“Foi durante a minha passagem pelo Café Society que nasceu uma canção que se tornou o meu protesto pessoal: «Strange Fruit». O embrião da canção estava num poema escrito pelo Lewis Allen. A primeira vez que o vi foi no Café Society. Quando ele me mostrou aquele poema fiquei logo impressionada. Parecia que falava de todas as coisas que tinham morto o meu pai.
O Allen também tinha sabido das condições em que o meu pai morrera e, claro, estava interessado na minha voz. Ele sugeriu que Sonny White e eu fizéssemos a música para o poema. Por isso juntámo-nos os três e fizemos o trabalho em três semanas. Também tive uma grande ajuda do Danny Mendelsohn, um outro músico que já me tinha feito arranjos. Ajudou-me com muita paciência a fazer o arranjo para a canção porque não tinha a certeza se conseguia transmitir essas coisas, que tinham um significado para mim, ao público de um clube fino.
Tinha medo que as pessoas detestassem. A primeira vez que a cantei fiquei com a sensação que tinha sido um erro e tinha razões para ter medo. Não houve sequer um ameaço de palmas quando acabei de cantar. Então uma só pessoa começou a bater palmas nervosamente. E de repente toda a gente estava a bater palmas”
Certamente que o meu pai gostaria de ter ouvido este tributo que Tony Bennett prestou a Billie Holiday.
“God Bless The Child”.
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(1) - “Lady Sings The Blues”
Tradução e adaptação de Frances Jude Rosário Duarte
Prefácio de José Duarte
Edições Antígona, Lisboa 1992
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