sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

AMADORA 67


Por cento e trinta e cinco contos apenas
viva masi longe sem o saber
com rendimento assegurado
e um provincianismo convicto e suburbano
das profissões liberais
e outras que tais.
Por cento e trinta e cinco contos apenas
tenha uma neurose suburbana
com rendimento asseguarado
cheia de sol e de moscas

A vila tem
construtores civis
e outros à paisana
que fazem prédios
e filhos
suburbanos
que ouvem o programa da moda
e têm poses de filme da televisão
e têm um carro que ronca
(por causa do quinto ano)
Com risquinhos atrás e um trevo
(por causa das meninas extrospectivas
E suburbanas)

Ao domingo toma-se banho
e o relato à tarde pelo transistor
vêm os parentes de Lisboa
comem-se bolos com creme no café
dão-se estalinhos com a língua para esmoer a desgraça
tomar um galão é o que fica bem às senhoras
os cavalheiros é imperial e tremoços
há muitas alegrias de retrosaria e fanqueiro
e um Cadillac a gasóleo por causa das empreitadas

Por não poder estar à testa
Mãe extremosa trespassa
Saudade de fadista doentinho
Que chumbou a duas no sétimo
Se o comprador provar ser evoluído
Terá como brinde a voz ambígua
Última oportunidade de realizar o seu sonho por pouco dinheiro

Porque o comboio circula com atraso
grandes descontos na assinatura
agora a primeira calasse ao alcance do seu pé de meia

Porque o comboio circula com atraso
desfrute de um neo-sebastianismo
justamente concebido para o seu tamanho

Vá de comboio para o seu ninho
suburbano.

Armindo Miranda

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