quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O VALOR DO VENTO


Irene Lisboa em Solidão II:

Já no Monte Agudo – pelos meus dezassete anos – eu queria dizer qualquer coisa ao vento. Rapariga solitária, demasiado solitária, impressionava-me o vento, a lua e outras coisas mais. Mas também sei, não esqueci que me achava incapaz de dizer o que queria ou sequer, de entender o que o vento me sugeria. O vento é um companheiro. As vozes acompanham-nos. Cortam o absoluto silêncio, a atonia e a calma do calado.”

Frank Sinatra, num concerto para angariação de fundos para ajudar crianças invisuais.

Algumas crianças visitam-no no final do espectáculo, e uma pergunta-lhe:

- Frank: de que cor é o vento?

Talvez um enorme silêncio como resposta.

De que cor é o vento?

RuyBelo, um dia, soube o valor do vento:

Está hoje um dia de vento e eu gosto do vento
O vento tem entrado nos meus versos de todas as maneiras e
só entram nos meus versos as coisas de que gosto
O vento das árvores o vento dos cabelos
o vento do inverno o vento do verão
O vento é o melhor veículo que conheço
Só ele traz o perfume das flores só ele traz
a música que jaz à beira-mar em agosto
Mas só hoje soube o verdadeiro valor do vento
O vento actualmente vale oitenta escudos
Partiu-se o vidro grande da janela do meu quarto

Legenda: Fotografia de Afonso Santos.

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