(excerto de uma entrevista à Flama Jun/1974)
Foi há 24 anos que o Zeca deixou de animar a malta, e como faz falta. Mais do que um baladeiro ou cantor de intervenção, a memória que tenho dele é a de um Homem de ideais e convicções fortes. Sempre mais preocupado com o que tinha para dizer, do que com a forma como o fazia, preferindo “animar a malta” em cima de uma camioneta de caixa aberta, ou numa qualquer sociedade recreativa, como a Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense que inspirou a cantiga-senha do 25 de Abril. Dizia ele que esses eram os momentos culturais importantes, e não os “Coliseus”, “São Luiz” ou “Pav. dos Desportos”, que seriam mais coisas de aparato, assistidas por quem não entendia o que ali se passava. Zeca Afonso não foi um cantor de atrair multidões a um sítio, foi mais de chegar a cada um e em cada um permanecer, a sua musica não se consome, entranha-se em nós e de nós fica a fazer parte. Feito cantor profissional por expulsão do ensino, mais do que falar sobre ele, importante é ele falar sobre nós, é ler as suas palavras, e sentir que foram ditas há décadas, como poderiam ter sido ditas hoje, se em vez de evocarmos a morte, estivéssemos hoje a celebrar a sua vida :
“Que é feito dos seus amigos de Coimbra, das baladas, da resistência, do famoso PREC?
Pela minha parte não tenho grande coisa a dizer sobre isso. Acho que os intelectuais deste país têm os Soares que merecem. É realmente uma geração que gosta de se apresentar a si mesma como vítima da desilusão. Para mim é uma atitude de traição, que não têm a coragem de confessar e por isso inventaram grandes malabarismos. Depois encostam-se ao PS, ao PSD ou a qualquer outra muleta do poder. Digamos que são pessoas que não me interessam.” (Excerto de entrevista concedida ao jornalista e escritor José Amaro Dionísio em Junho de 1985.)
E se ao ouvirmos “Os Vampiros”, sentimos que aquilo que foi escrito há 50 anos continua a fazer sentido, só podemos concluir que os “responsáveis” de hoje são mais parecidos com os de então do que aparentam....
“Quando começamos a procurar álibis para justificar o nosso conformismo, então está tudo lixado!”(excerto de entrevista ao Se7e nov 1985)
2 comentários:
Abriu janelas onde nem paredes havia.
Terrível aquele "quando começamos a procurar alibis para justificar o nosso conformismo, então está tudo lixado!"
24 anos...! Como o tempo passa...
Ainda parece que foi ontem que eu e o Hugo fomos em perigrinação a Setúbal.
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