sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

A MINHA FESTA DO AVANTE!

FestaDoAvante_1981

Fui à grande maioria das Festas do Avante, desde 1976 na FIL, onde com 10 anos acompanhei os meus pais naquela que foi a primeira a ser realizada, e tenho vagas memórias da imensidão de gente que transbordava naquele espaço exíguo para a maior manifestação cultural que se tinha realizado em Portugal até então. Desci a serra de Carnaxide para ir ao Jamor, quando ali foram realizadas as seguintes Festas, depois de o trabalho Militante ter conquistado o terreno ao mato e canaviais que proliferavam no outrora hipódromo do Jamor. Depois quando o terreno estava limpo e decidiram que afinal aquele terreno, até ali abandonado, fazia falta para uma pista de crosse, naquele que foi o início dos ataques à incómoda Festa! E que perduram até aos nossos dias. Dizia eu que depois descia os Cabos de Ávila, e subia o Monsanto, até ao Alto da Ajuda, onde depois de se retirarem toneladas de pedra de um terreno onde pensaram ser impossível realizar o que quer que fosse, aconteceram as melhores e maiores Festas de que me lembro. Como disse no início, entre 1976 na FIL e 2010 na Quinta da Atalaia, terreno comprado pelo PCP para não ter que andar sempre a limpar terras abandonadas para os outros depois as rentabilizarem, fui a quase todas as Festas do Avante, mas a que me ficou sempre na memória como “A minha Festa!”, foi a de 1981 no Alto da Ajuda. Há acontecimentos que nos marcam para a vida, essa Festa foi um deles, talvez pelos meus 15 anos, pela envolvência da época musical que se vivia em Portugal, com um renascer em força do Rock Português, e numa época anterior aos “festivais de verão”, em que tocar no palco principal da Festa! era a consagração máxima que um artista português atingiria. Em clip_image0021981 tudo me encheu as medidas, a juntar ao idealismo próprio de quem estava no meio da adolescência, e de sentir todo aquele ambiente de solidariedade próprio da Festa! que na altura estava no seu auge, tive a felicidade de assistir aquele que foi para mim o melhor programa de sempre, passaram pelo palco 25 de Abril praticamente todos as grandes bandas Portuguesas de então. Desde os Salada de Frutas, com a lindíssima Lena d´Água clip_image004 que pouco depois saiu da banda, UHF na primeira de muitas aparições no evento, naquele que António Manuel Ribeiro considera como um dos maiores feitos da banda, ao tocarem para mais de 100.000 pessoas quando tinham pouco mais de um ano de gravações. Um verdadeiro programa de luxo, além dos já referidos, vi também Brigada Vítor Jara, Carlos Alberto Moniz e Maria do Amparo, Rui Veloso, Júlio Pereira, Os Tubarões, Trovante, Carlos do Carmo, Ary dos Santos, Ivan Lins e Lúcia Lina, José Afonso, Fernando Tordo, Paulo de Carvalho, Edmundo Silva, Fernando Chaby entre outros, e aquele que para mim foi o melhor concerto da minha vida, Dexys Midnight Runners !! juntar um naipe de artistas deste numa colectânea discográfica já seria difícil, vê-los em palco, sucedendo-se em ritmo alucinante, foi uma coisa que me marcou para sempre, daí considerar esta a “Minha Festa do Avante”. Como dizem os Xutos, “o que foi não volta a ser” e é bem verdade...

3 comentários:

Miguel disse...

Nesses tempos eu ia para lá a correr ver os meus ídolos da Folk: Tom Paxton, Judy Collins, Buffy Sainte Marie, Fairport Convention, The Band,....

Hoje, o espaço da música tende a ser cada vez mais ocupado pelo espumante e pelas sandes de leitão...!

Sammy, o paquete disse...

Ainda ontem, em conversa com o Mário, falava do naipe riquissimo de músicas e cantores que já passaram pela Festa do Aavnte, então num tempo em que os concertos, por aqui, não tinham atingido o ponto a que hoje chegaram.
E falei do Tom Paxton e da desilusão do Miguel por o Tom Paxton nem sequer ter tido direito a um encore. Quiseram as más fortunas que, naquele sábado de Setembro de 1980, ele actuasse antes da armada brasileira (Chico Buarque, Edu Lobo, Simone, MPB4)e todo aquele mar de gente (tanto mar!) estava no Alto da Ajuda mais para ver a banda passar do que ouvir canções folk dum sujeito que a esmagadora maaioria dos presentes nem sequer ouvira falar.
Há meia dúzia de anos, no final de um colóquio na Culturgest, o Ruben de Carvalho ficou de contar uma história passada com a actuação de Tom Paxton, mas a chegada do "clã dos Olivais", impediu que finalizasse a conversa
Assim como não finalizou- nem sequer começou - uma outra conversa sobre uma outra história.
E aí já não foi culpa do "clã dos Olivais", mas do próprio Ruben, que um dia me há-de contar, se o conseguir, a omissão de um inesperado, como triste, silêncio...
Talvez um dia a história por aqui apareça no "Um Vaguear pelos Tempos"...

Jack Kerouac disse...

Outros tempos, outros contextos, a própria situação política era outra. Existiam apoios financeiros diferentes, grande parte dos músicos portugueses actuavam de borla, a Festa! era a grande manifestação cultural de Portugal, os músicos faziam fila para terem lugar no programa do palco principal, e depois, depois ainda havia Zeca Afonso, Ary dos Santos, as posições políticas dos artistas eram importantes, a sociedade no seu geral ainda se conduzia por ideologias, ainda não se tinha conseguido vender a ideia de que o caminho para o abismo é a única opção "responsável"...enfim...mudam-se os tempos mudam-se as vontades.