quarta-feira, 17 de julho de 2019

CHAMINÉS


Quando as pernas se deslocavam com facilidade, eram bem mais ágeis, entendeu que iria à cata das velhas chaminés de padarias, de fábricas várias.

Ficaram por aqui algumas.

Foi quando passou perto, que lhe ocorreu que o crematório do Alto de São João tem chaminé.

Foi aí que se construiu, corria o ano de 1925, o primeiro forno crematório.

Em data, que não conseguiu apurar, foi desactivado.

Os motivos ele sabe: exigências da Igreja, às quais Salazar deu amplo ámen.

Mais do que qualquer Ricardo Salgado, a Igreja foi mesmo entidade dona disto tudo e ainda lança laços que pretendem atrasar o já de si lento desenvolver de ideias novas. Ainda…

Em 1985, já não havia Salazar, e contra a vontade da Igreja, o crematório foi reactivado.

Hoje a cremação está generalizada e, convenhamos que é um outro asseio.

Ao ponto de ter caído quase no esquecimento o dito de se estar «com os pés para cova», substituído por um estar «com os pés para fogueira».

O destino é apenas um, e a morte, a velha morte, dizem os sábios, é o último desses destinos.

Espantou-se Ibsen: «Já? Mal tinha começado a habituar-me à vida.»

Maiakovski afiançava que não é difícil morrer, viver é muito mais e exigia, a um qualquer químico do futuro: «A primeira coisa que farás é ressuscitar-me, a mim que tanto amava a vida».

O malandro do Woody Allen diz que não tem medo da morte, só não quer lá estar quando isso acontecer.

A conclusão de tudo é a morte.

O que agora escreve, sente-se mortal. Apenas não quer cair numa cama feito vegetal inútil porque os médicos, a igreja, não o deixam morrer, quando ele decidir que assim terá de ser.

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