Jangada
Romeu Correia
Capa: João da
Câmara Leme
Colecção O Livro
de Bolso nº 41
Portugália
Editora, Lisboa s/d
CAROLINA (sombria):
Que viver tão triste que tem sido o nosso! (Comovida) Quando penso na nossa
existência entre estas quatro paredes… choro, choro, só me sinto bem a
chorar!...
LUZIA (igualmente
comovida): Se tivéssemos casado, nada disto teria acontecido. Mas este
maldito cais onde o papá se meteu… Nós, umas raparigas, entaipadas entre o mar
e o céu…
(Pausa)
CAROLINA: Há mulheres que nunca se conformariam entre
estas quatro paredes!
LUZIA (reagindo):
Mulheres sem princípios!
CAROLINA (digna):
Mas a nós, graças a Deus, nunca eles nos faltaram!
(Pausa)
LUZIA: Os nossos pais prenderam-nos demasiado… - foi o
que foi!
CAROLINA: Nisso de severidade, a mamã levava a palma
ao papá.
LUZIA: Era ela que nos aturava de manhã à noite. Ao
passo que o pobrezinho só nos via quando regressava do trabalho… Aquele homem
viveu mais horas sob o telhado da fábrica que junto da esposa e dos filhos.
4 comentários:
Depois de ler este excelente pequeno resumo, quero ler "JANGADA", deste homem que creio ter sido um amante do boxe e que, ao que julgo igualmente saber, morava em Almada, perto da Praça da Renovação (que suponho seja a praça onde se situa o célebre Café Central).
Romeu Correia é uma das muitas lacunas da biblioteca da casa. E não tenho palavras para lhe dizer o quanto lamento que assim seja.
Toda a minha vida profissional foi feita numa agência marítima no Cais do Sodré.
A barra mansa do “British-Bar”, o velho “English-Bar”, quase um clube inglês daqueles dos romances policiais, hoje está lá uma cervejaria, do outro lado da rua o “Bar Americano” onde o José Cardoso Pires se sentava em silêncio, copo de whisky sobre a mesa e, ao lado, o “Califórnia”, café, restaurante, bilhares na cave, também barbeiro e manicure, kioske de jornais e revistas e o António, ao findar-da-tarde-quase-noite, a fritar uns “pregos”, carregados de alhos, ovo a cavalo, fininhos com dois dedos de espuma.
E havia a Livraria Anglo-Americana onde pontificava o poeta Eduardo Olímpio, ao lado Pastelaria Caneças que hoje é uma boutique do pão.
Quando atravessava o rio, o Romeu Correia visitava a «Anglo-Americana» e ficava ali à conversa. Era um homem notável, de uma simplicidade maravilhosa. Mas sobre o Romeu Correia, o Luís Eme, que talvez nos venha a ler em cópia, tem mais, por expresso conhecimento, a dizer sobre o Romeu Correia.
Ainda hoje, irei publicar as indicações que o Romeu Correia deixou aos eventuais encenadores da peça. Por exemplo:
«Há ainda uma sugestão de ambiente: quem vive num cais à beira de um rio nagegável ouve com frequência o apoito distante ou perto de navios e o grasnar das aves marinhas,,,»
E como isto é tão bonito!
Bonito, sem dúvida!
Só agora voltei ao blogue e dei conta daquilo que o Seve me deixa aviso.
Irei eliminar os comentários porque aquilo não é nada.
Obrigado
Enviar um comentário