Há 50 amos
lembra-se que passou toda uma noite para ver, numa televisão a preto e branco,
o primeiro homem pisar a lua,
Não conseguiu
ver quase nada. Quando chegavam imagens eram trémulas e cheias de sombras. O
resto era conversa em estúdio televisivo, comentadores diversos, tudo coordenados
pelo José Mensurado.
Depois teve de
apanhar a primeira automotora para as Caldas da Raínha.
Pela tarde
comprou os vespertinos que pouco adiantavam. A capa do República, para além do acontecimento, lembrava que o jornal tinha sido visado pela Comissão de censura.
Anos mais tarde,
Miguel Torga há-de escrever no seu Diário:
«O homem
desceu na lua. Ensacado num fato espacial e de foguetão no rabo, tanto teimou
que conseguiu pôr os pés fora da terra. E lá anda aos saltos, a lutar com a
imponderabilidade, ridículo, mas triunfante. Como é natural, vivi intensamente
as diversas fases da viagem, e foi num misto de alívio e orgulho que ouvi a
notícia do seu desfecho feliz. Agora, porém, passada a ansiedade e o
entusiasmo, sinto-me triste. Que monótonas e desconsoladas aventuras nos restam
no mundo! Primeiro, comandadas por computadores depois em vez de sonhos
de arredondamento da fraternidade, propósitos objectivos de alargamento da
solidão...»
Sem comentários:
Enviar um comentário