As Viúvas das Quintas-Feiras
Claudia Piñero
Tradução: Artur
Lopes Cardoso
QuidNovi
Editora, Matosinhos, Fevereiro de 2008
Fora para a varanda e instalara-se lá, numa
espreguiçadeira, disposto a beber. Agarrei numa cadeira, sentei-me a seu lado e
esperei, olhando ma mesma direcção, calada. Queria que me contasse qualquer
coisa. Nada de importante, nem divertido, nem sequer precisava de que me dissesse
alguma coisa com sentido, apenas que falasse comigo, que fizesse a parte que
lhe competia nessa troca de palavras mínimas em que, com o passar do tempo, se
haviam transformado as nossas conversas. Um acordo tácito de frases feitas
encadeadas, palavras que iam enchendo o silêncio, com o propósito de nem sequer
ter de se falar do silêncio. Palavras ocas, carapaças de palavras. Quando me
queixava, Ronie argumentava que falávamos pouco porque passávamos demasiado
tempo juntos, que não podia haver muito que contar se não nos separávamos
durante grande parte do dia. E era assim desde que Ronie ficara sem trabalho,
seis anos antes, e não voltara a ter outro emprego, exceptuando alguns
projectos que acabavam por nunca se concretizar. A mim não me interessava
descobrir porque é que a relação se fora descascando de palavras, mas sim
porque é que só recentemente me dera conta de que o silêncio se instalara na
casa, como um familiar afastado que não temos outro remédio senão hospedar e
cuidar. E porque é que não me doía. Talvez porque a dor foi conquistando o seu
lugar pouco a pouco, em silêncio. «Vou buscar um copo», disse. «Traz gelo,
Virginia», gritou Ronie, depois de eu ter saído.
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