Desses teus lábios, onde o fruto se infunde
de húmidos clarões, cresce o amor em macia
aparência de cardo, cal ou sol.
E como um rio que goteja em dor uma alegria
no terrível espaço que divide
das tuas mãos os vestígios de um corpo,
de deuses não nascidos inviolável recordo.
É essa tua pureza de pássaro
- do sangue irrompes e da noite
pela invenção do dia e das estações –
que da minha solidão desvelas,
amigo, uma louca
repercussão de ecos e difracções.
Jorge de Sena em
Correspondência com Carlo Vittorio Cattaneo
Legenda:
fotografia de A. Lopes Fernandes
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