Os Afluentes do Silêncio
Eugénio de
Andrade
Capa: Armando
Alves
Editorial Inova,
Porto, Dezembro de 1968
Esta morte, assim sem mais nem menos, que um amigo me
comunica, entala-se-me na garganta. «Morreu o Manuel Ribeiro de Pavia. Levou-o
uma pneumonia que o foi encontrar depauperado por uma vida quase de miséria.
Passava fome! Tinha uma única camisa! Não pagava o quarto há não sei quanto
tempo! E nós a falarmos-lhe de poesia…» Assim é: passava realmente fome. Todos
nós o sabíamos. E ele a falar-nos de pintura, de poesia, da dignificação da
vida. É justamente nisto que residia a sua grandeza. Não falava da sua fome –
de que, feitas bem as contas, veio a morrer. A fome não consta de nenhum
epitáfio.
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