Escritos de Juventude
Albert Camus
Prefácio: Paul
Viallaneix
Tradução: José Carlos
Gonzalez
Capa: Infante do
Carmo
Livros do
Brasil, Lisboa s/d
Os homens constroem as suas vidas sobre a velhice. A
essa velhice eivada de coisas irremediáveis querem proporcionar a ociosidade
que os deixa indefesos. Querem chegar a contramestres para se reformarem num
chalezinho. Mas uma vez atingida a idade sabem que isso é falso. Precisam dos
outros homens para se protegerem.
É nos homens que o homem se refugia. E aquele que se
proclama o mais solitário, o mais anarquista, é precisamente aquele que mais
arde por se mostrar aos olhos do mundo. O que conta são os homens. As gerações
sucedem-se, começam e acabam umas nas outras, nascem para morrer e renascer. Um
dia, uma velha sofreu. E daí? O seu destino não apresenta senão um interesse
restrito. Ela própria não confia senão no homem. Deus de nada lhe serve, a não
ser para afastar dos homens e para a deixar sozinha. Ela não quer isso. Ela
chora.
Um homem, uma velha, outras mulheres falaram, e as
suas vozes apagam-se lentamente, progressivamente, abafadas pelo clamor universal
dos homens, que bate com força. Como um coração presente em toda a parte.
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