No Google, a Ciberdúvidas
da Língua Portuguesa, responde:
«Se lendária, se verdadeira, a origem desta frase
encontra-se ligada à guerra entre os Estados Unidos e a Espanha, nos finais do
século passado, era presidente norte-americano William Mckinley.
A administração despótica e corrupta da Espanha sobre
a ilha de Cuba levou a anos de insurreição dos cubanos contra a potência
colonizadora.
Em 1895, uma facção de revolucionários apoderou-se da
capital de Cuba e de boa parte do território. A retaliação, por parte dos
Espanhóis, foi violenta e caracterizada por enormes atrocidades.
Em 1898, um navio de guerra dos Estados Unidos,
o Maine, fundeado em Havana, com a missão de proteger os interesses
americanos, explodiu com 200 pessoas a bordo.
Foi o rastilho para a declaração de guerra dos Estados
Unidos (de resto, já entrevista quando vários senadores partilhavam da opinião
de um deles, Albert Beveridge, que declarara: «Somos anglo-saxões e devemos
obedecer ao nosso sangue e ocupar novos mercados e, se necessário, novas
terras».)
A guerra foi rápida, 115 dias, apenas. A derrota da
Espanha estabeleceu-se no Tratado de Paris, de 10 de Dezembro de 1898, e, por
ele, as Filipinas e Porto Rico passaram para o domínio dos Estados Unidos.
Nesse período de guerra ocorreu o episódio que
originou a frase (divulgada por Elbert Hulbard, em 1899).
Mackinley precisou de entrar em contacto com um dos
chefes da guerrilha cubana. Chamou um tal Rowan e passou-lhe uma carta, dizendo
que ela deveria ser entregue, em Cuba, a Garcia, o comandante rebelde.
Pelo que se conta, Rowan, sem nada perguntar, meteu a
missiva numa bolsa impermeável e partiu para Cuba. Percorreu montes e vales,
selvas e praias, mas, quatro dias depois, entregou a carta a Garcia e regressou
aos Estados Unidos para dar conta da empresa ao seu presidente.
É, enfim, este o sentido da expressão: «Cumprir,
eficazmente, uma missão, por mais difícil ou impossível que possa parecer.»
Tinha par aí uns
19/20 anos quando encontrei este folheto entre os livros da biblioteca do meu
pai. Nunca dera por ele, da sua biblioteca comecei a ler Eça de Queiroz aos 14
anos e, claro, tive que o reler mais tarde e ainda hoje o leio, sempre com o
mesmo gozo e encantamento. Tão pouco me recordo de alguma vez ouvir a expressão
«levar a carta a Garcia». Mas a leitura do livrinho foi uma agradável surpresa.
Uma mensagem simples: se alguém tem alguma coisa a fazer, que faça. E isso
engloba que, provavelmente, é necessário
algum esforço para a sua concretização, mas o importante é fazer.
A terminar olivrinho, Elbert Hubbard escreve:
«O meu coração está com o homem que executa a tarefa
que lhe incumbe, esteja o patrão ou não esteja na loja.
Ao homem, que, quando se lhe entrega uma carta para
Garcia, obedientemente pega nela, sem fazer perguntas desnecessárias e sem a
intenção oculta de a deitar na valeta mais próxima, ao homem que não faz outra
coisa senão entregar essa carta.
O mundo chama por esses homens e, na verdade, o que é
necessário é o homem que saiba levar Uma Carta para Garcia.»
Agarrado aos
fascículos de Notícias do Bloqueio, estava a Carta para Garcia que há muito tempo, mas mesmo muito tempo, não lhe pegava.
Dos cinco netos
que tenho, dois (um de 16 outro de 12 anos) estão em boa altura de saber dessa
história de levar uma carta para Garcia.
Quando, por
Agosto, arrancarem de férias, levarão o livrinho.
Mas isto de, nos
tempos que correm, pôr filhos e netos a lerem. é uma tarefa árdua, quiçá
inglória. Chegado aqui, lembro sempre o José Tolentino de Mendonça e é bom
repetir o que ele diz, porque diz as coisas melhor do que eu:
« Conversava com uns amigos preocupados com o filho
que anda agora pelos 17 anos. São ambos professores, os corredores de casa
parecem uma biblioteca, mas o filho não lê um livro. Às vezes, dão por si a
olhá-lo como se olha um estranho cuja língua e hábitos se ignoram. Não sabem
como se formou o muro cultural que os separa. Veem-no horas e horas retido no
ecrã do telemóvel, obsidiado por aquele retângulo brilhante, aos olhos deles
fazendo nada. Lamentam o que lhes parece ser uma dependência, mas sentem-se
impotentes. Quando tentam explicar-lhe que o ecrã é uma gaiola de vidro onde se
deixa aprisionar, o filho levanta a cabeça, olha-os também sem entendê-los, mas
sem intenção de substituir o que o ocupa por um livro qualquer. A primeira
coisa de que me recordei — e que lhes disse — foi uma frase do escritor Gianni
Rodari: “O verbo ler não suporta o imperativo.” Ler é uma atividade
indissociável da curiosidade e do desejo. É preciso aprender a senti-la como
uma necessidade interior, um gosto, uma alegria que pode até ser frívola e
profunda ao mesmo tempo, um encontro a que nos dispomos sem porquê. Não basta
uma ordem ou um conselho repetido. Falta uma iniciação que seja digna desse
nome. E, a esse propósito, lembrei-lhes o que dizia Rubem Alves: que era pela
cozinha que deveríamos sempre entrar numa sala de aulas, pois ensinar é a arte
de despertar a fome em alguém.»
Legenda: Elbert Ubbard
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