Meses antes da Feira do Livro de 2004, os mentores, para justificarem ordenado ou subsídio, começaram a estudar a mudança da Feira do Parque Eduardo VII. Não sabiam bem para onde, mas isso para eles nunca é importante. Pensam em mudar e mudarm depois logo se verá. Por norma sai sempre disparate.
Um coro de protestos levantou-se.
Na feira desse ano um grupo de editoras, editoras que gostam mesmo de livros (Afrontamento, Antígona, Assírio & Alvim, Climepsi, Cotovia, Gótica, Meribérica-Liber, Relógio d’Água, Teorema) fizeram um livrinho que reunia textos de autores diversos , “Os Livros no Parque”, em defesa da localização da Feira do Livro de Lisboa no parque Eduardo VII.
“É para nós evidente que a feira neste local pode e deve ser melhorada; mas só parque Eduardo VII ela mantém as características de festa cultural da ciddae de Lisboa, num local central e aprazível, ao ar livre.”
Este é o texto que o Jorge Silva Melo escreveu para este livrinho:
"Eu só gosto do Parque Eduardo VII em Maio, nunca lá vou noutra altura. Mas gosto de subir e de descer, sobretudo ao sábado e ao domingo, com gente que nunca vi nas livrarias, gente que mexe em livros, dicionários tantas vezes, livros do dia, livros mais baratos, gente, tanta gente, fico sempre com a sensação que há pessoas, que os livros servem as pessoas, que os editores são gente honesta que quer um mundo melhor, gosto de coleccionar os catálogos, de marcar com cruzinha os livros a comprar, de nem sequer comprar esses mas outros que me aparecem, esquecidos, de encontrar livros insuspeitos que nem sabia estarem editados, gosto de pedir autógrafos, há muitos anos foi lá que falei com a Maria Judite de Carvalho e lhe disse quanto a admirava, gosto de ver escritores sentados, gosto dos altifalantes a anunciarem escritores e descontos, gosto das farturas que ainda o ano passado engorduraram um livro de poesia acabadinho de comprar e até carote, não me tirem a rua
dos livros ao sol, não me fechem a Feira do Livro, deixem-me, uma vez por ano, passear pelo Parque Eduardo VII de todos os jacarandás, ao cair da noite, pela fresca, deixem-me encontrar os amigos, são cada vez menos!, deixem-me queixar-me de já não ter dinheiro, nem espaço em casa para mais papelada, deixem-me voltar a casa com quilos de sacos, deixem-me a minha Feira do Livro onde ela é, é onde todos os anos eu respiro um mundo que talvez fosse maior, com mais gente, mais livros, histórias, poesias, gente a subir e a descer aos sábados à tarde, com tanto calor. E um dia gostava de filmar, porque não filmar a descoberta do amor entre um rapaz de uma barraquinha de livros em segunda mão e uma jovem escritora neurasténica, rapariga loira com as suas singularidades. Ou vice-versa, em Maio, no Parque Eduardo VII."
Sem comentários:
Enviar um comentário