sexta-feira, 13 de maio de 2011

PRÉMIO CAMÕES




O jornalista e escritor Manuel António Pina ganhou o Prémio Camões, o maior prémio literário de língua portuguesa, criado em 1989 por Portugal e pelo Brasil para distinguir um escritor cuja obra tenha contribuído para a projecção e reconhecimento da língua portuguesa.

Manuel António Pina emparceira ao lado de, entre outros, Miguel Torga, João Cabral de Melo neto, Jorge Amado, José Saramago, Sophia Mello Breyner Andresen, Eugénio d’Andrade, Maria Velho da Costa, Agustina Bessa Luís, Luandino Vieira, António Lobo Antunes.

No ano passado o vencedor foi o poeta brasileiro Ferreira Gullar


Ele próprio o admite: foi uma grande surpresa, algo de inesperado.

Digo o mesmo, mas acrescento: uma surpresa muito agradável e carregada de justiça.

Gosto de cronistas.

Manuel António Pina publica, de segunda a sexta-feira, as suas crónicas no “Jornal de Notícias”.

A sua leitura é dos meus primeiros exercícios do dia, e pela etiqueta, aí ao lado, poderão constatar que é visita muito cá de casa.

Uma prosa lúcida, clara, incisiva e onde quase sempre passa um certo e fino humor.

Tenho para mim que a crónica é uma disciplina superior do jornalismo e que Manuel António Pina, não é apenas o melhor cronista da imprensa portuguesa de hoje, é, também, um excelente poeta, um ternurento e cativante contador de histórias para crianças.

Saudando este prémio, fui à sua “ Poesia Reunida” , buscar este “Quinquagésimo ano”:

“São muitos dias
(e alguns nem tantos como isso…)
e começa a fazer-se tarde de um modo
menos literário do que soía,
(um modo literal e inerte
que, no entanto, não posso dizer-te
senão literariamente).
Mas não há pressa, nem se vê ninguém a correr;
a única coisa que corre é o tempo,
do lado de fora, porque dentro
a própria morte é uma maneira de dizer.
Caem co’a calma as palavras
Que sustentaram o mundo,
e nem por isso o mundo parece
menos terreno ou impermanece.
Restam, é certo, alguns livros,
Algumas memórias, algum sentido,
Mas tudo se passou noutro sítio
Com outras pessoas e o que foi dito
Chega aqui apenas como um vago ruído
De vozes alheia, cheias de som e de fúria:
Literatura, tornou-se literatura!
E a vida? (Falo de uma vida
muda de palavras e de dias, uma vida nada mais que vida;
haverá uma vida assim para viver,
uma vida sem a si mesma se saber?)
Lembras-te dos nossos sonhos? Então
precisávamos (lembras-te?) de uma grande razão.
Agora uma pequena razão chegaria,
um  ponto fixo, uma esperança, uma medida.”

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