A um café do Boulevard Saint-Michel
Chegou um jovem pintor numa chuvosa tarde de Outono.
Bebeu quatro ou cinco cálices de um licor esverdeado
E pôs-se a contar aos ociosos jogadores de bilhar o encontro comovido
Com uma amada de outrora, muito meiga mulher
No momento casada com um rico carniceiro.
«Meus senhores, suplicou, dêem-me depressa, por favor,
O giz que colocam na ponta dos tacos.» Depois, de joelhos,
Tentou com a mão trémula fazer o retrato
Da amada dos dias idos. Mas logo desesperado
Apagou o que fizera, começou de novo,
E de novo parou, e outros traços traçou
Enquanto repetia: «Ainda ontem o sabia».
Clientes tropeçaram, resmungando, nele. O gerente, furioso,
Pegou-o pela gola do casaco e pô-lo no olho da rua. Já no passeio,
Ele abanava a cabeça e ainda perseguia com o giz
os traços fugitivos.
Bertold Brecht em Poemas
Legenda: fotografia de Willy Ronis
Sem comentários:
Enviar um comentário