O dr. Oliveira Salazar, sem dúvida o espírito mais sensível e universal do seu
tempo, detestava por razões obscuras as papoulas. Achava que, sendo
suspeitosamente vermelhas, eram uma metáfora comunista e um equívoco da flora
lusitana.
Na realidade, o dr. Oliveira Salazar tinha sabido por
interpostas leituras que alguns poetas correntes (e, porque poetas,
subversivos) cantavam aquela popular flor campestre em versos insidiosos e
antiportugueses. Carlos de Oliveira, Ruy Belo e José Gomes Ferreira figuravam
entre os agitadores dessa corrente.
Ah, sim? Rápido e sensível, como sempre, o professor
da nação tomou as medidas que se impunham. E vai daí, deu ordem a todos os
censores, tipógrafos e mestres-escola que riscassem a papoula da Literatura, o que
imediatamente foi cumprido para os devidos efeitos e o bem da Nação.
Este cometimento cultural teve lugar nos anos
cinquenta da Idade do, assim chamado Estado Novo e constituiu uma salutar
inovação de grande alcance nacional.
José Cardoso
Pires, de uma crónica em O Jornal , 9 de Janeiro de 1987
Legenda: pintura
de Dima
Dmitriev
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