A República
Portuguesa foi implantada no dia 5 de Outubro de 1910.
Depois da queda
do governo de direita-Passos-Coelho-Paulo-Portas, o 5 de Outubro voltou a ser
feriado nacional.
Dois olhares
escritos.
Um do
republicano José Saramago, outro do monárquico Ruben A.
E uma canção de
Vitorino retirada do seu álbum Leitaria Garrett:
E então chegou a república. Ganhavam os homens doze ou
treze vinténs, e as mulheres menos de metade, como de costume. Comiam ambos o
mesmo pão de bagaço, os mesmos farrapos de couve, os mesmos talos. A república
veio despachada de Lisboa, andou de terra em terra pelo telégrafo, se o havia,
recomendou-se pela imprensa, se a sabiam ler, pelo passar de boca em boca, que
sempre foi o mais fácil. O trono caíra, o altar dizia que por ora não era este
reino o seu mundo, o latifúndio percebeu tudo e deixou-se estar, e um litro de
azeite custava mais de dois mil réis, dez vezes a jorna de um homem.
Viva a república, Viva. Patrão, quanto é o jornal
agora, Deixa ver, o que os outros pagarem, pago eu também, fala o feitor, Então
quanto é o jornal, Mais um vintém, Não chega para a minha necessidade, Se não
quiseres, mais fica, não falta quem queira, Ai minha santa mãe, que um homem
vai rebentar de tanta fome, e os filhos, que dou eu aos filhos. Põe-nos a trabalhar,
E se não há trabalho, Não faças tantos, Mulher, manda os filhos à lenha e as
filhas ao rabisco da palha, e vem-te deitar, Sou a escrava do Senhor, faça-se
em mim a sua vontade, e feita está, homem, eis-me grávida, pejada, prenhe, vou
ter um filho, vais ser pai, não tive sinais, Não faz mal, onde não comem sete,
não comem oito.
José Saramago em
Levantado do Chão
Os heróis republicanos, as forças armadas que tão brilhantemente
se tinham batido do alto da cidade na gloriosa manhã dom 5 de Outubro merceiam
a homenagem da Pátria, da Lusitânia pelos movimentos das várias tropas estacionadas
na periferia da capital. Foi resolvido, após demoradas consultas entre os
vários membros dos partidos da coligação que o local da concentração se
realizasse na Rotunda da Avenida onde se decidiu a causa da República. O povo
da cidade viria todo para a rua num comício organizado pelas juntas de freguesia
de acordo com o estabelecido nas agendas dos concelhos mais perto de Lisboa e
as deslocações desta manifestação começariam na véspera com a chegada dos
excursionistas vindos de comboio, com os respectivos lanches. Era uma grande
coisa a República, proporcionava momentos de vibração apoteótica. Da Rotunda o
cortejo iria uma parte para o Coliseu dos Recreios e outra para a Praça dos
Touros, os menos exaltados podiam ficar pelas leitarias e pastelarias a estabelecer
relações e contactos de esclarecimento.
Ruben A. em Kaos
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